Escrito por Gilmar de Oliveira
Vivemos sob a ótica da razão. Ótimo. Estava mais do que na hora de assumirmos o controle da sociedade e de seus passos. Chega de atribuir às divindades nossos infortúnios e nossas glórias. Chega também de discursos emocionais encherem nossas almas de emoção, de ludibriarem sob o domínio da forma e não do conteúdo, milhões de cabeças (Hitler, Mussolini, Khomeini, religiosos, ditadores, demagogos em geral).
Porém, a época da razão, que chamo da época do Hemisfério Cerebral Esquerdo, é uma época do normal demais, das doenças mentais ou das alterações de personalidade classificadas como dados estatísticos, enquadrando como doentes aqueles que saem da média considerada normal.
O Hemisfério Cerebral Esquerdo, ou popularmente, o lado esquerdo do cérebro humano, é a área que processa de forma lógica os dados que os sentidos captam do meio; A parte frontal, mais especificamente, é a que nos faz humanos: raciocínio lógico e abstrato, pensamentos filosóficos e análises profundas sobre questões atemporais e imateriais. É onde se processa boa parte daquilo que você precisa para viver nos dias atuais. Ali não se produz a emoção (que fica a cargo do Lobo Límbico, estruturas localizadas na base do cérebro), mas dados são processados e analisados, envolvendo lógica, razão, objetividade, classificação. Os estímulos ligados a sentimentos, à musicalidade (métrica, rima, poesia), às cores e formas, à expressão não-verbal, arte, e as sensações são tarefas executadas pelo lado direito do cérebro.
E, claro, com uma importante contribuição de várias áreas do cérebro relacionadas com as emoções.
A racionalidade de nosso tempo não deve escravizar as relações nem deixá-las frias, impessoais. Ser racional e profissional com um aluno não quer dizer que a cordialidade não se faça presente.
Mas tentar se viver na ditadura do certo e do errado, das etiquetas, protocolos, costumes,das estatísticas nos dizendo quem é normal e quem não é, aí é demais.
Quem é o doente mental, quem é o desequilibrado nos dias de hoje? Aqueles que fogem aos padrões rígidos do que é ditado como normal. Está sobressaltado, agitado, nervoso? Stress, ansiedade... Que tal um Citalopran? O que seria dos professores sem a Santa Fluoxetina?
Esquecem de ver que existem causas para o estresse, para o nervosismo. Cobrança social, exigência de prazos cada vez mais curtos para tarefas cada vez mais longas e complexas. Não podemos deprimir. É uma ditadura do gozo, do prazer, como muitos autores estão alertando. Ficar triste, chorar, curtir um luto, uma dor, estar triste faz parte de nossas vidas, também. Mas ao menor sinal de sofrimento ou de alteração do que é normal e protocolar, olham estes como se fossem ET´s.
Parecemos os zumbis-humanos daquele filme “Invasores de Corpos”: cada vez mais sem sentimentos, sem diferenças, sem autonomia e individualidade. Para os alterados, remédios que nos deixam “normais”, ou seja: sem sentimentos extremos, sem iniciativas, sem rompantes, naquele cinza, que não é nem preto, nem branco. Tudo fica no padrão: um jeito de vestir, um jeito de pensar, uma forma de tratar os outros, uma forma de reagir. Tornamos-nos vítimas do consumo e da padronização do pensamento. Acabaram-se os gênios. E se tivéssemos Citaloprans e fluoxetinas, paroxetinas e outras zumbi-tinas de 200 anos para cá, o mundo não teria Einstein, Heidegger, Van Gogh, Monet e uma penca de artistas e pensadores geniais, mas excêntricos e desmedidos para os tempos da ditadura da normalidade de hoje em dia.. Mozart estaria internado, Beethoven estaria numa sala de aula em algum programa de inclusão fajuto que as políticas públicas de Educação fingem funcionar.
É isto que leva professores a pensarem que alunos que saem muitas vezes da carteira a cada aula sejam “hiperativos”, ou tenham “problemas emocionais”. A escola não suporta comportamentos criativos ou iniciativas que fujam ao padrão do professor. Aula chata e aluno com iniciativa? Uma voltinha para descontrair. Os gritos de “Senta, Fulano!” aparecem. Tem aluno que se passa, a maioria sai do eixo da ditadura da normalidade porque as aulas são ruins e chatas mesmo e eles são espontâneos. Só isso.
Adeus gênios, adeus criatividade. Vamos ouvir músicas “sertanejo universitário” (que diabo é, afinal, isso?) A criatividade dos “pagodes sei-lá-o-quê” rimando pé com pontapé te esperam.
Vamos a mostras de quadros pintados por macacos, vamos ver “releituras” de grandes artistas, pois ninguém cria mais nada mesmo. Ah, e vamos alegrinhos, sorrindo para a mediocridade, senão vão nos achar depressivos, baixo-astral, quem sabe uma distimia ou Transtorno Bipolar.
A sala de aula vai ficar mansinha: Uma fila de merenda e uma fila de Ritalina.
Caprichem, escolas e professores. Como diria Robin: “Santo Rivotril, Batman!”.