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Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Abril/2009)

Quem roubou o sorriso do mestre?

Escrito por Gilmar de Oliveira

Tenho entrado em algumas escolas públicas e particulares nos últimos dois meses. Em períodos de vacas magras, sempre é bom dar um "olá", ser lembrado. Vivo disso.

Mais que cartazes malfeitos e anúncios velhos que alguns professores insistem em sepultar nas paredes, e toda poluição visual causada (escola de cadetes, vestibular do ITA, bingo dos idosos do ano passado, festa no Salão Cruz-Credo...), o que chama a atenção é o andar cabisbaixo, cansado e triste dos mestres na troca de sala.

Quem roubou o sorriso dos professores? Onde está a magia, o encanto e a motivação dos professores? Cadê a ansiedade de entrar e conversar com a turminha, de sorrir e brincar com as palhaçadas de crianças e jovens inconseqüentes para iniciar uma aula gostosa?
Salário motiva? Não, definitivamente.  Ajuda a sair de uns problemas que o brasileiro é forçado a ter: dívidas.

Salário e qualquer estímulo externo não motivam. Segundo autores da Psicologia Organizacional (Bergamini, Vroom, Steinberg e tantos), a motivação vem de dentro de cada um, é algo intrínseco ao sujeito.

O que nos motiva não é a água, mas a sede. Um motivo leva à ação. Motivo-Ação... Motivação.

Ninguém motiva ninguém. No máximo pressionamos, incentivamos e conseguimos empolgar alguns. Momentaneamente. Fogo de palha.

O que mobiliza é a necessidade. Quando saciada, o desejo se torna foco de desinteresse, como a água nos é enfadonha quando matamos nossa sede.

O professor é movido a sonhos. Sonhos e necessidades de mudanças. O verdadeiro professor.

Dinheiro em forma de salário justo se deve pagar a quem faz a diferença em sala. Mesmo assim, sabemos que neste país ninguém fica rico honestamente. E professor que fica rico é um empresário disfarçado de mestre.

Antes de querer e poder ser bem pago, deve mostrar a capacidade de educar com qualidade, de levar o aluno a ter compreensão e noção daquilo que estuda, de compreender o mundo, de dar ao aluno a chance de ser.

Ou seja: ter sede de mudar. É ter comprometimento com a aprendizagem real, que muda a conduta e a visão de mundo do aluno. É a preocupação de se aprimorar para acompanhar as mudanças do mundo e oferecer mais de si próprio, enquanto profissional, ao aluno.

Falta esta motivação. Auto-estima de saber que muda algo em alguém.

A maioria dos professores atualmente nas salas de aula ganha muito, demais, pelo mal que faz ao país.

Um professor de Sociologia de uma escola da minha cidade trouxe Durkheim e o "fato social" para os alunos. Texto difícil, abstrato. Copiado, explicação confusa, sem delongas, ele triste; "questionário", teste com consulta. Sem explicar o momento vivido por Durkheim, nem adulto entende; o que saberá o adolescente? Perdeu-se uma oportunidade de se falar da pressão da sociedade, da coerção social, da herança social, preconceitos, dogmas...Tal professor vai receber dinheiro pela besteira que fez. Meu dinheiro. O naco que aumentaria seu salário, caro leitor. O professor inapto ganha o mesmo que o bom professor.  Pode? No Brasil pode. Ainda.
O professor que é movido a dinheiro deveria ter abraçado outra profissão. Porque nem na escola particular mestres são bem pagos.

Ali se vê uma situação "menos pior", como diz um amigo.

Mas quem há de respeitar profissionais que aceitam trabalhar em locais podres que são interditados? Quem respeita professor que tolera desrespeito, bagunça e ofensa e faz de conta que nada ouviu? Quem respeita profissional que admite falta de estrutura, de segurança, de equipamento? Quem respeita profissional mal preparado, aulas ruins e outros mestres que frente a isso nada fazem?

O sorriso deve vir da satisfação profissional. Antes de tirarem o dinheiro do contracheque, tiraram o respeito das almas de boa parte dos professores. Outros nunca se deram o respeito. O motivo vem de dentro de ti, lembra-te.

 
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