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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Dezembro/2008)

Avaliação dos alunos indisciplinados e/ou com dificuldades de aprendizagem

Escrito por Sandra Petry

O professor percebe, ao longo do ano, os alunos com maiores dificuldades de aprender e sabe que é nesses que sua atenção e sua experiência técnica deve se focar.

Porém, é comum que a ansiedade e a pressão do ambiente escolar acabem por transformar a avaliação em punição, assim como os baixos resultados dos alunos frente aos parâmetros esperados, façam-nos, por sua vez, os tais “indisciplinados”. Quando as distorções se encontram (a do professor e a do aluno), confunde-se a indisciplina do aluno com desrespeito e desinteresse, a reprovação toma a vez do Juízo Final, do Dia do Julgamento. Há alunos indisciplinados com boas notas, mas esta indisciplina quer dizer algo à escola...

Lembre-se dos conselhos de classe: Fulano apronta todas e tem nota baixa: reprovamos! Beltrano é muito “fraquinho”, mas é quieto, se esforça: uma chance - aprovamos! É novinho e nunca reprovou...bomba nele!

Quando paramos para refletir, lembramos que reprovação não é castigo, não é vingança, não é solução. Reprovação é fracasso do sistema de ensino (quando existe um), fracasso da escola, da família. Mas a vítima é o aluno. Achamos justo que o aluno desrespeitoso, debochado, indisciplinado e arrogante seja reprovado.

Se ele é eficaz em notas, descontam-se pontos, para “baixar a crista” (como se isso fosse eficaz). Se for um aluno de rendimento abaixo do esperado, parece fácil demais colocar a causa na indisciplina e reprová-lo.

Mas será que este aluno é indisciplinado e cínico por obra da natureza? O desinteresse vem dele mesmo?

Devemos nos lembrar que a indisciplina mascara a incompreensão do conteúdo e de si mesmo; é evidência de insegurança do aluno e defesa em relação ao meio, desestrutura familiar e um intenso sofrer. O aluno finge que é assim mesmo, nota zero é festa e dá-lhe zoeira. Não sabe porque não quer saber. Será só isso?

Em quase todos os casos encaminhados a psicólogos, este perfil de aluno apresenta: déficit de atenção (com ou sem TDA ou TDA-H), caos familiar (com pais permissivos, opressivos ou sem base emocional), depressão (sim, causa agitação e irritabilidade), dislexia, problemas de personalidade (borderline, desajuste psicossocial, entre outros) ou até mesmo orgânicos: distúrbios neurológicos, da visão, da audição, dentre outras hipóteses comumente registradas.

A bagunça generalizada (bullying, o termo da moda) é uma linguagem de sofrimento de quem, em geral, está sofrendo com algo que não consegue resolver sozinho. Quantas vezes o sistema de orientação educacional desenvolveu um trabalho completo, de visão sistêmica, sobre este aluno, sua situação e sua família? Desprezar a necessidade deste trabalho equivale a desprezar os livros e o professor.

Por trabalho completo entende-se aquele onde a orientação educacional ou coordenação pedagógica estudam o caso e sua história de vida, traçam o perfil sócio-econômico, educativo, familiar, afetivo, clínico e cognitivo e fazem os devidos encaminhamentos; depois traçam metas conjuntas (aluno-escola-família-centros especializados) e acompanhamento adequados, devolutivas aos professores, apoio pedagógico, orientação, novos parâmetros de aprender conteúdos que tenham significado, novos olhares de mundo, alternativas de conduta, escolhas de vida.

Se este trabalho de orientação e de encaminhamentos não for realizado em seu todo, se as alternativas não foram oferecidas, NÃO REPROVE O ALUNO NUNCA!

Claro que já temos a esta altura educadores rindo: em qual mundo o (a) autor (a) vive? Quantas escolas brasileiras possibilitam tais trabalhos de orientação educacional?  Por acaso substituir professores faltosos ou fazer cartazes para homenagens é trabalho de orientação? Dar bronca no Juquinha ajuda em quê?

Se não exigirmos o real trabalho dos orientadores, psicólogos escolares e coordenadores, mesmo com a melhora do nível educacional e da didática, nosso ensino será um fracasso.

A mesma problemática pode-se dizer dos alunos com baixo rendimento escolar, mas que são quietos ou apáticos: a apatia e a indiferença frente ao fracasso escolar mascaram uma série de problemas emocionais, psicológicos, orgânicos, familiares, sociais... Destes, temos pena de reprovar, mas muitos deles acabam repetindo o ano, por serem “novos”, “imaturos”. O que foi feito? Qual diagnóstico? Resultados dos trabalhos de orientação ou devolutivas dos encaminhamentos? Não tem? Aluno aprovado. Simples assim.

Não reprovemos junto com os alunos. Descubramos as causas. Tratemos. Nosso futuro será melhor.

Avaliação, nunca punição no ato de ensinar e aprender! Boas Festas e Boas Férias (ufa!)

UM FINAL DE ANO MARAVILHOSO AOS GRANDES HERÓIS PROFESSORES! FORÇA SEMPRE!

 
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