Escrito por Gilmar de Oliveira
Olá, leitor… no artigo deste mês vou provocar... Espero que a carapuça não te sirva.
Fiquei nos últimos meses procurando monografias, dissertações e teses nos diversos cursos de pós graduação em Educação. Para mim, é fundamental a pesquisa, a leitura e a produção acadêmica.
Meu desespero foi notar a impressionante repetição de temas pobres e sem valor acadêmico, assuntos batidos, sem utilidade para a vida prática do professor brasileiro, que carece de técnicas de ensino inovadoras, que necessita de algo mais do que temas como "a Importância da Obra de Piaget na Escolinha da Tia Candinha" ou "A Importância..." de alguma coisa para... .
São milhares de trabalhos acadêmicos espalhados em depósitos e bibliotecas (sim, achei dois depósitos de monografias; nada mais justo com trabalhos ruins que não valem sequer o papel gasto), sem valor de mudança, sem poder de transformar a cabeça do educador.
Na imensa maioria das vezes, os cursos de especialização nas áreas de Educação pedem monografias ou artigos para a conclusão do curso, com orientações de um professor para turma toda, com raros encontros e com uma base bibliográfica escassa demais, restritas a autores que "explicam" a obra de Piaget e Vygotsky (arroz-de-festa nos trabalhos dos pedagogos) ou que falam de motivação e afeto na Educação.
Só de "A Importância do Afeto para..." foram uns 45,50 trabalhos. O pior de tudo é que de tão subjetivos, não se encontra nos objetivos do trabalho nada que combine com a justificativa e muito menos com a fundamentação teórica. E afinal, como é que vamos medir a importância? Eu posso achar importante e você, não.
Aí chovem, nessas monografias, citações de autores que poderiam muito bem ir para a lata do lixo. Isso mesmo: Gabriel Chalita, Augusto Cury, Lair Ribeiro, Roberto Shinyashiki, dentre outros, poderiam muito bem poupar as árvores usadas para fazer o papel de seus livros e jamais passarem de meros rascunhos.
Nada contra quem lê estes livros, apesar de mesmo no senso comum eles serem considerados ruins de doer. O problema é serem estes livros a fundamentação teórica que norteia boa parte dos trabalhos de especialização dos professores que vão educar os meus e os seus filhos.
Autores (?) que descrevem estágios ou publicam suas monografias, que têm dinheiro (neste país quem tem dinheiro pode tudo, até fazer livro ruim) para editar sua "obra" sob a forma de livro, são citados aos montes nestes trabalhos de pós graduação. São monografias editadas que colaboram para a distorção do pensamento científico no trabalho dos educadores. Trabalhos fundamentados em outros trabalhos muito pobres, sem validação técnica ou científica, livros sem indexação ou catalogação que os indiquem como obra de qualidade para se tornar referência.
Por sorte ninguém lê essas monografias, nem mesmo os alunos concluintes. Muitos pagam para outras pessoas escreverem seus trabalhos.
Bem-feito para os orientadores de monografia, que, de castigo, perdem horas (creio eu) lendo pérolas sobre como ser carinhoso com as criancinhas na sala de aula ou como o envolvimento afetivo constrói conhecimento nos alunos da Vila Mocotó. Não que não se deva ser afetuoso, mas o educador brasileiro confundiu esta habilidade relacional com assistencialismo.
E nem sequer estes estudos são colocados em prática. Escreve-se a monografia, entrega-se ao orientador e, uma vez entregue à instituição, jaz numa prateleira sem interessar a ninguém.
Onde estão os estudos comparativos entre salas de aula que usam recursos tecnológicos para a construção do conhecimento e salas de aula sem recursos diferenciados, no quesito aprendizagem? Ou um estudo sobre o stress e suas fontes no ambiente escolar?
Estudos sobre programas de trabalho escolar integral, estudos para a implantação de formação continuada de professores, soluções para a falta de professores, mesmo subjetivos, apontariam possibilidades de melhora da educação.
Mesmo subjetivas, as pesquisas bibliográficas que demonstrem como superar dificuldades de aprendizagem, também podem surtir muito efeito se escritos e socializados nas escolas, com sugestões de manejo pedagógico diferenciado e inovador.
Quem sabe se os professores e pedagogos do futuro, hoje nas faculdades de Educação, trabalhassem com afinco as disciplinas Metodologia Científica e Estatística juntamente com as demais áreas estudadas, desenvolveríamos projetos e pesquisas sérios, úteis, com embasamento teórico adequado que contribuíssem para sairmos deste atraso de séculos em que se encontra a escola brasileira.
Muitas vezes a formação universitária é mais carente que as escolas, os alunos fogem longe das disciplinas citadas acima, os professores, saturados, apenas corrigem erros metodológicos e não de foco de pesquisa.
O material humano que as escolas recebem não atende à demanda de qualidade que nossas crianças precisam.
Um preparo real na faculdade e um teste de conhecimentos específicos feitos por uma autarquia para então se obter a licenciatura ajudariam nossos filhos a terem Educação com a qualidade que merecem.