Escrito por Maria Goreti Gomes
A utilização da tecnologia nas práticas pedagógicas durante o período de isolamento social na pandemia de Covid-19 traz uma série de consequências para pais, alunos e professores.
Uma pesquisa realizada na Universidade Federal do Paraná (UFPR), com a parceria de pesquisadores de instituições de São Paulo, identificou algumas das necessidades pedagógicas e psicossociais de docentes do Ensino Médio e do Ensino Superior ao longo dos últimos meses.
Questionamentos sobre como dialogar com os estudantes por meio de uma linguagem clara e assertiva e sobre como manter o engajamento e a motivação das turmas foram elencados como preocupações em um questionário respondido por 120 entrevistados, de todas as regiões do país.
O estudo, intitulado Convivência ética em tempos de COVID-19, também identificou alterações no tempo e na rotina, nos cuidados de si e do outro e na interação.
De acordo com a professora Loriane Trombini Frick, do Setor de Educação da UFPR, a pesquisa buscou mapear as principais necessidades pedagógicas e psicossociais entre os professores para entender como oferecer alternativas.
“A tecnologia esteve presente em todos os relatos e um grande desafio foi a questão do acesso e de como criar um novo espaço pedagógico”, explica ela, que tem como parceiros as professoras Ana Carina Stelko Pereira (UFPR) e Juliana Zechi (IFSP) e o professor Pedro Afonso Cortez (UMESP).
O projeto é uma das ações do Observatório do Clima Institucional e Prevenção da Violência em Contextos Educacionais da UFPR.
Entre os entrevistados, 45% nunca haviam ministrado aulas à distância, nem mesmo no formato híbrido. A pesquisadora explica que as respostas traziam, em seus contextos, uma grande questão: a insegurança com a tecnologia e com a melhor forma de se utilizar esse recurso.
Mesmo com boa parte dos docentes afirmando que as instituições ofereceram treinamento, uma das dúvidas recorrentes era sobre como gerar interação.
“A maioria dos professores está fazendo alguma coisa para aprender, investindo em câmeras, microfones, tudo para utilizar melhor os recursos”, pontua a professora, sem deixar de comentar também aquilo que pode ser um problema na formação: “faz-se urgente inserir na formação de professores o uso dos recursos tecnológicos de uma forma geral”.
Os participantes do estudo também relataram seus principais medos, entre eles a defasagem na aprendizagem dos alunos, mesmo com todos esforços, a contaminação pelo vírus e o medo de perder o emprego. Além disso, reforçaram o quanto essa situação tem impactado na sua saúde mental e na dos estudantes.
Curso e materiais didáticos
A pesquisa – respondida majoritariamente por docentes do ensino público (94,8%) – vai ter um desdobramento prático, já em fase de execução: a equipe produzirá materiais formativos de ampla circulação e abertos à comunidade docente. “Com recursos de edital formamos uma equipe de 13 bolsistas de áreas interdisciplinares, que já estão trabalhando”, explica Loriane. A ideia é que produzam vídeos curtos, com conteúdo consistente e de fácil divulgação.
Um curso com carga horária maior também está nos planos da equipe, que pretende utilizar, além das respostas coletadas nesta pesquisa, dados sobre um estudo acerca do Clima Universitário, que coletou dados sobre convivência, saúde mental e violência realizado com a comunidade da UFPR no ano passado. Os caminhos se cruzam na preocupação em entender melhor as relações interpessoais nas práticas pedagógicas.
Para Loriane, um dos legados dos novos tempos é justamente poder pensar na necessidade de se reconstruir a educação. Segundo ela, essa conscientização de que é preciso mudar não significa o apoio à substituição dos modelos presenciais por uma educação a distância, pois o que existe é um contexto novo.
“É importante que a educação se reconstrua e que os professores saibam usar estes recursos”, diz.