Escrito por Maria Goreti Gomes
A instituição beneficente de ensino global Varkey Foundation, com sede em Dubai, divulgou a pesquisa no início de novembro, seis meses após 61% dos estudantes brasileiros não terem sequer conseguido terminar a prova do PISA.
A Análise apontou também que o desempenho dos alunos de um país está ligado à valorização e à remuneração dos docentes.
No Brasil, professores são pouco respeitados. A pesquisa mostra que nove em cada 10 brasileiros acreditam que não há respeito por parte dos alunos aos seus professores. É o menor número entre os 35 países pesquisados.
Somente 20% dos pais encorajariam seus filhos a seguir a profissão e apenas 3% dos adolescentes concluintes do ensino médio optam por carreiras do magistério.
O Índice Global de Status de Professores teve sua estreia em 2013. Naquele ano, o Brasil estava na penúltima posição, nesta pesquisa de 2018, caiu para a última dentre os 35 países pesquisados.
“Os governos devem levar o status do professor a sério”, alertou a Fundação Varkey, que acrescentou ainda que o desempenho dos alunos está diretamente ligado à forma como a sociedade vê e remunera seus professores. A China lidera o ranking dos 35 países analisados.
Os governos que almejam pontuações mais altas na classificação mundial do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) – que mede as habilidades de jovens em leitura, matemática, ciências e trabalho em equipe – deveriam concentrar seus esforços na valorização e nos salários de professores, afirmou o estudo.
As horas trabalhadas semanalmente pelos professores também foram subestimadas em 29 países. Os profissionais latino-americanos são os com a maior carga horária – chegando a 13 horas extras no Peru. No Brasil, a carga horária semanal média dos profissionais em sala de aula é de 47,7 horas, a percebida apenas 39,2 horas.
Ligação direta com PISA
O Índice Global de Status de Professores (GTSI) da fundação verificou “uma ligação direta entre o status do professor e o desempenho dos alunos medido pelo Pisa”. Os resultados do PISA são publicados a cada três anos pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Ao comparar os estudos de 2013 e de 2018, a equipe de pesquisadores, liderada pelo pesquisador Peter Dolton, concluiu que o prestígio do professor aumentou em 13 países, tendo a China a melhor avaliação – embora seja a sétima colocada no Pisa. As maiores quedas foram registradas na Grécia e no Egito.
Por outro lado, todos os países da América do Sul tiveram resultados ruins e foram classificadas na parte inferior do índice, com o Brasil em último, e a Argentina apenas quatro posições acima.
Em 2013, o Brasil aparecia na penúltima posição. O estudo destaca que o respeito pelos professores é particularmente baixo no Brasil: apenas 9% acreditam que os alunos o fazem.
Na maioria dos países europeus, os entrevistados afirmaram achar que os alunos tendiam a desrespeitar os professores. Apenas 22% dos alemães afirmaram sentir que os estudantes respeitavam seus professores. Na China, 81% dos entrevistados afirmaram que os professores eram respeitados.
Outro aspecto estudado foi o futuro da profissão. Na Alemanha, onde o salário dos professores é relativamente alto, apenas um em cada cinco pais encorajava seus filhos a se tornarem professores. No Brasil, a proporção é a mesma. Enquanto metade dos pais na China, Índia, Gana e Malásia incentivam os filhos à carreira.
Levar o professor a sério
“O alto status do professor não é apenas algo bom para se ter – é cada vez mais provável que leve a melhores resultados dos alunos”, concluíram os autores do GTSI, que acrescentaram que a confiança nos sistemas de ensino nos países pesquisados cresceu desde 2013. “Os ministros devem levar o status do professor a sério e se esforçar para melhorá-lo.”
O estudo do índice GTIS também verificou que, em 28 dos 35 países analisados, os professores recebiam uma remuneração menor do que os habitantes de seus países consideravam ser justa.
A Fundação Varkey é dirigida por Sunny Varkey, um empreendedor nascido na Índia e residente em Dubai, cuja empresa GEMS Education, de acordo com relatórios anteriores da Bloomberg e do jornal americano New York Times, tornou-se um dos maiores provedores privados de educação no mundo desde os anos 80. Seus mercados incluem o leste da Ásia e a África.