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Jornal da Educação

Histórias da Educação (Edição Ago e Set/2019)

Escola Primária Adam Mickiewicz - notas de uma escola

Escrito por Alcione Nawroski


     Às 22:35 de uma quinta-feira no início do mês de junho de 2019, a professora Renata da Universidade de Varsóvia me ligou perguntando se eu gostaria de acompanha-la numa visita à uma escola que possuí algumas especificidades, localizada na aldeia de Umiastów no município de Ożarów Mazowiecki, a uma hora do centro de Varsóvia/Polônia.

 

     Era sexta-feira, início do mês de junho, depois de um intenso maio chuvoso, as árvores se encontravam esplendidamente verdes por volta das 10 horas da manhã. Nesse dia, em especial, senti pela primeira vez neste ano uma temperatura de verão, portanto, um dia que estava anunciando a chegada do sol mais quente. Com a chegada dos dias de verão, também começamos a sentir o ar de chegada do fim do ano escolar quando começamos a perceber um clima diferenciado e quem trabalha em escola sabe do que estou falando - os estudantes já estão compartilhando sobre as expectativas de suas férias, os familiares planejando atividades com as crianças para este período e os professores ainda contando os dias que precisam vir à escola. Enfim, é aquele típico clima de final de ano escolar.

 

      Ao chegar na Escola Primária Adam Mickiewicz com aquele clima de “verão está chegando”, fomos recebidos pela Diretora da Escola Sra. Grażina Pytkowska e a professora de Língua Inglesa, professora Sra. Angelika Mazurka-Zacharek. A visita foi organizada em dois momentos, o primeiro foi para conhecer todas as dependências escolares e no segundo momento realizamos uma conversa com a Diretora. A escola conta atualmente com 57 alunos atendidos do zero

 

       Em 1946, houve um mutirão iniciado pelas famílias que se comprometeram a pagar mensalmente uma taxa de 50 PLN, além de ofertarem uma quantia mensal de trigo e batatas para a escola. No período pós-guerra também eram escassos os livros didáticos que foram extraviados, assim, as crianças escreviam e publicavam seus próprios jornais para compartilhar e colaborar com os colegas na leitura. Mais tarde, os livros foram sendo recuperados.

 

     Segundo um livro publicado pela diretora da escola que retrata a história desta instituição escolar, o mesmo menciona que “em 4 de maio de 1947, no dia oficial da educação, os alunos realizaram uma apresentação dos seus trabalhos e os pais organizaram um chá, quando na oportunidade foram arrecadados 1800 PLN para a criação da biblioteca” (Pytkowska, 2008. p. 6). Durante o ano letivo de 1946/1947, 93 alunos frequentaram a escola, sendo que 12 eram órfãos. No ano seguinte, “entre 2 e 5 de abril de 1948, foi realizado um exame médico das crianças no centro de saúde em Ołtarzew, onde foi demonstrado uma porcentagem significativa de crianças com tuberculose, doenças cardíacos e anêmicos. Apenas cerca de 15% das crianças eram consideradas saudáveis” (Pytkowska, 2008. p. 7).

 

      Em 1948, também foi criado um curso para adultos, quando foram matriculados 13 alunos e as aulas aconteciam após o término das aulas das crianças. As disciplinas ministradas eram: religião, polonês, francês, história, geografia, biologia, física, química e matemática. No final do curso em 1949, oito estudantes conseguiram ser aprovados nos exames finais e passaram a lembrar com carinho do tempo dispendido na escola.

 

      Os relatos no livro de Pytkowska (2008) mostram que eram tempos difíceis, principalmente em relação as instalações físicas porque o prédio estava velho, com vazamento, as portas e janelas apodrecendo e sem carvão para o aquecimento durante o inverno. Por outro lado, acrescenta que a escola foi surpreendida com um presente no dia 10 de dezembro de 1950, durante uma solenidade na Academia do Teatro Roma em Varsóvia, quando ganhou um rádio com seis estações de radiodifusão nacional. Mas, embora a aldeia estar localizada a cerca de 20 km da capital, a luz elétrica ainda não estava disponível e o rádio não funcionou.

 

      A mudanças políticas no cenário nacional dos anos de 1950 também se manifestaram na escola. A pedido dos governantes e autoridades educativas, foi estabelecida a Associação de Amizade Polaco-Soviética que ficou bastante evidenciada com a morte de Joseph Stalin, anunciada em 5 de março de 1953. A data foi marcada por luto da escola e no dia 7 de março, a escola fez 5 minutos de silêncio em sua memória.

 

      O novo prédio escolar foi inaugurado em 18 de fevereiro de 1958, e passou a levar o nome do poeta polonês Adam Mickiewicz. Em seguida, os anos na escola foram bastante dinâmicos, quando os estudantes se organizavam no sistema de autogoverno e organizações cooperativas. O material escolar dos alunos, além de pães, biscoitos e doces eram vendidos pela Cooperativa Estudantil. Livros antigos e novos eram distribuídos entre os estudantes. Durante as férias escolares, as groselhas da horta continuavam sendo colhidas e os estudantes em conjunto com os professores preparavam a geleia para acompanhar o café da manhã com pão e leite durante o ano letivo. Também eram realizadas atividades recreativas, especialmente de grupos folclóricos que se apresentavam durante as principais datas comemorativas do país. A Associação de Juventude Rural da escola também foi premiada pelas melhores ornamentações do jardim e a melhor organização da horta da escola. Vivendo um período de grande engajamento de toda a comunidade escolar, a escola passou a ser um local de referência para os estudos de formação, passando a ser um espaço de estágio para professores.

 

       A visibilidade da escola ultrapassou as fronteiras do país e, em 1973, recebeu a visita de uma delegação escolar da Itália, e em 1974, da França, da Hungria e da Bulgária. Em 1975, a escola foi visitada por 23 professores da Finlândia da qual resultou um trabalho coletivo entre os estudantes de Umiastów e Helsinque. Em 1976, participantes do 8º Encontro Internacional dos Educateurs Freinet (RIDEF), realizado em Płock, visitaram a instituição em Umiastów. Eram educadores de 14 países, a saber: Polônia, França, Espanha, Portugal, Holanda, Bélgica, República Federal da Alemanha, República Democrática Alemã, Itália, Bulgária, Hungria, Iugoslávia, Argélia e Tunísia. Segundo (Pytkowska, 2008), a visita foi referenciada pelos visitantes que, em meio a um zumbido multilíngue, mencionaram que encontraram uma adaptação autêntica das técnicas de Freinet em solo polonês, além das ideias de Makarenko e Korczak.

 

       Em 1978, foram realizadas algumas mudanças no currículo da escola quando foram introduzidas aulas de meio-ambiente e a educação artística foi contemplada com técnicas artísticas. Em 1979, contrariando a vontade dos pais, os estudantes do quarto ano foram transferidos para outra escola. Durante os anos de 1980, foram introduzidos pela Ministério da Educação desse país, os manuais escolares. Em 1987, foi criada uma turma de jardim de infância e a partir de então a escola passou a atender crianças de 6 a 10 anos de idade. Por meio de uma portaria do Ministro da Educação de 16 de dezembro de 1999, os recursos para as escolas neste país passaram a ser repassados conforme o número de aluno porque o financiamento passou a ser destinado ao aluno e não mais a escola. Com isso, as escolas rurais como de Umiastów, passaram a receber menos recursos financeiros do Governo.

 

       Em fevereiro de 2000, a escola correu sério risco de ser fechada, mas se manteve por conta da sua história e do que ela representou especialmente aos pais e avós dos estudantes. Como movimento de não fechamento da escola, a comunidade criou uma associação de manutenção da escola que passou a se chamar “Escola Pequena”.

 

      Em 2005, alguns professores da escola buscaram mais informações sobre algumas experiencias de “escolas pequenas” na Holanda, quando visitaram experiências de escolas públicas e privadas, além de atendimentos especializados para crianças com necessidades especiais.

 

      Por fim, a diretora da escola destacou alguns pontos positivos e negativos respectivamente, enquanto gestora educacional. Como primeiro ponto, destacou a colaboração da comunidade local com a escola, quando os pais se envolvem e dão uma energia especifica a escola e assim, se mantém próximos da escola e da vida escolar de seus filhos. Por outro lado, a Diretora da escola destacou o empenho árduo e cansativo de encontrar parceiros financeiros para a escola, destacando que os empresários apenas colaboram quando, podem levar alguma vantagem, caso contrário as relações são frias.

 
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