No ano passado, no Centro de Ensino a Distância (CEAD) da UDESC, Bruno Robbes – professor na Université de Cergy-Pontoise de Versailles e especialista em autoridade docente – ministrou a palestra “Escolas Diferentes na França” e fez referência à Pedagogia Institucional. Depois desta fala, ouvimos algumas vezes a pergunta: “você conhece a Pedagogia Institucional?” e resolvemos pesquisar um pouco sobre esta proposta pedagógica quase desconhecida no Brasil.
A Pedagogia Institucional começou em 1949, quando o professor Fernando Oury resolveu utilizar as técnicas freinetianas, concebidas no e para o mundo rural, para o ensino no subúrbio parisiense, procurando fugir da educação autoritária da época. De outra parte, Oury aproximou-se da psicanálise através do seu irmão Jean Oury e da Aïda Vasquez e aprofundou aspectos terapêuticos nas técnicas freinetianas, em boa medida rompendo com algumas orientações de Freinet. E assim nascia a Pedagogia Institucional com sua base tripla: as técnicas, o grupo e o inconsciente.
Como funciona uma turma institucionalizada?
O espaço é estruturado de forma que facilite o encontro, o diálogo e a movimentação e deve ser rigorosamente organizado com cartazes que comuniquem as leis da sala, a lista dos afazeres e as faixas de níveis, tudo decidido de forma conjunta no conselho de classe ou pela autoridade do professor, que difere de autoritarismo. As faixas correspondem ao nível escolar que mostra a progressão através das cores, ideia apropriada do judô, mas os grupos também podem se rearranjar pela necessidade de aprendizagem de um determinado assunto independente das faixas e é através deles que se dá a ocupação do espaço pelos alunos.
O emprego do tempo também é exibido de forma clara em quadros ou cartazes e calendários; os tempos são precisos e devem ser respeitados, de sorte que o descumprimento de prazos são discutidos no conselho de classe. As técnicas de trabalho – como já falado – são freinetianas: texto livre, aulas passeios, elaboração de jornal escolar, atividades coletivas e individuais e uso de fichas de trabalho individuais.
Uma outra abordagem na sala institucionalizada são os lugares de fala, espaço dedicado a escuta ativa dos alunos e alunas, que pode ser trabalhado tanto em um espaço e tempo livre dedicado a esse momento e/ou dentro do conselho de classe. E o institucional vem justamente por conta das decisões coletivas e dos dispositivos citados por Fernando Oury, que são tratados como instituições que regulam as relações dentro da sala.
A bibliografia sobre a Pedagogia Institucional é sobretudo francesa, mas há textos publicados no Brasil. A coletânea “Instituir para ensinar e aprender: introdução à Pedagogia Institucional” (Editora Universitária da UFPB), organizada por Fernando César Bezerra de Andrade e Maria Eulina Pessoa de Carvalho e com um robusto capítulo de Édith Héveline e Bruno Robbes, é um excelente livro introdutório acerca da Pedagogia Institucional. Vale a pena conferir...