Escrito por Norberto Dallabrida e Letícia Vieira
Como parte integrante da disciplina História da Educação Nova do Curso de Mestrado em Educação da Université de Nanterre, ministrada pelo professor Laurent Gutierrez, visitamos a École Decroly (Escola Decroly), localizada em Paris no bairro de Saint-Mandé.
Como o próprio nome indica, esta escola pública adota o método proposto por Ovide Decroly, um médico belga que realizou uma experiência educativa renovadora. A Escola Decroly oferece classes maternelles (educação infantil), classes élémentaires (anos iniciais do ensino fundamental) e classes du 1er cycle ou collége (anos finais do ensino fundamental).
A visita à Escola Decroly permitiu a observação de situações de aprendizagem em duas turmas distintas: uma classe de 3éme année élémentaire e uma classe de 3éme année do collège. Nas classes do élémentaires a pedagogia de viés ativo mostrou-se evidente antes mesmo da chegada dos alunos: mobiliário de tamanho reduzido, mesas espaçosas e reunidas em grupo, sala temática com murais e varais expondo os trabalhos das crianças e uma mini-biblioteca em sala.
No canto da porta, um calendário onde, a cada dia, uma ou mais crianças eram definidas como ajudantes. Mais tarde descobrimos que os ajudantes do dia eram os responsáveis pela organização e limpeza da sala ao final da aula.
Ponto fulcral da pedagogia decrolyniana, os “centros de interesse” estavam presentes nas práticas da turma de ensino élémentaire, de maneira que um único tema, a cadeia alimentar, figurava como eixo norteador de todas as disciplinas e atividades.
A ideia de desenvolvimento de autonomia e auto-regulação ficavam evidenciadas nos pequenos detalhes. Crianças curiosas e questionadoras faziam e respondem perguntas, prontificando-se a falar, aguardando a sua vez. As ideais aceitas eram anotadas e organizadas pela professora que, nesse caso, realiza apenas a mediação educativa.
No collège, os traços da pedagogia ativa de Ovide Decroly aparecem de forma rarefeita, mas estão presentes. Conforme reconhecido pela própria escola em sua proposta pedagógica (ver www.decroly.fre), algumas disciplinas são oferecidas na tradicional forma de “aprendizagem sistematizada” (línguas, informática e história/geografia, por exemplo).
Essas eram as disciplinas presentes na ocasião da visita e que, deve-se frisar, chamaram atenção por sua prática tradicional. Com exceção do uso habilidoso das mídias como ferramenta pedagógica por parte dos professores, do viés crítico e ativo da participação dos alunos nas aulas e do número reduzido de alunos por turma, o formato, em um primeiro contato, não revelou grandes inovações ativistas.
De forma parecida o que ocorre em muitas instituições brasileiras que seguem matrizes de viés escolanovista, as práticas pedagógicas denominadas ativas na Escola Decroly de Paris são aplicadas com mais efetividade nas classes maternelles e élémentaires. Assim, também na experiência francesa da Escola Decroly, o ensino secundário e superior é capturado pela forma educacional mais tradicional.
A nossa visita valeu muito a pena porque nos colocou em contato com uma proposta pedagógica instigante de uma escola pública que se propõe a fazer uma educação diferente, envolvente e eficaz.