No próximo dia 1º de junho, às 14h, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), por videoconferência, a professora Bernardete Gatti fará uma palestra sobre a formação de professores. Esta conferência integra o “Seminário Mestrados Profissionais em Debate”, promovido pelo Centro de Educação a Distância (CEAD) da UDESC.
Bernardete Gatti é uma das maiores autoridades em formação de professores no Brasil. Realizou o seu doutorado na Universidade de Paris e pós-doutorado na Universidade de Montreal (Canadá) e na Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos). Atuou como professora na PUC de São Paulo e como pesquisadora na Fundação Carlos Chagas. Com este capital cosmopolita, atualmente é uma das vozes mais respeitadas na questão da formação docente.
Em 2016, concedeu uma entrevista à revista ÉPOCA em que faz declarações corajosas e consistentes sobre a formação de professores. Respondendo à questão “o que falta na formação para professor”?, afirma: “O problema da formação de professores começa na faculdade. Os docentes de pedagogia e das licenciaturas não sabem ensinar para quem dará aula. Isso porque eles mesmos não aprenderam como fazer isso. Para não dizer que a formação didática não existe, podemos dizer que ela é precária. A maioria dos futuros professores não aprende como lecionar. Não recebem na faculdade as ferramentas que possibilitarão que eles planejem da melhor forma possível como ensinar ciências, matemática, física, química e mesmo como alfabetizar. Muitos de nossos professores saem da faculdade sem saber alfabetizar crianças. É um problema grave”.
No desdobramento desta questão, ÉPOCA indaga: Por que os cursos de licenciatura não mudam? E a professora Bernardete Gatti assevera: “A gente constata em entrevistas e em pesquisas com docentes das faculdades que eles não têm a noção de que estão formando um profissional da Educação, que vai para a sala de aula lidar com crianças e adolescentes. Eles trabalham para formar intelectuais e pesquisadores. Até certo ponto isso é importante. Mas essa é apenas parte da formação. É preciso focar também na prática social nas escolas. Dizer para os acadêmicos que eles têm de formar professores para a sala de aula chega a escandalizá-los. Muitos encaram essa questão como algo menor. Essa mentalidade vem de longe”.
E, para tornar a carreira docente mais atraente, a professora Bernardete Gatti sustenta que a remuneração faz a diferença e argumenta: “Aumentar os salários é fundamental para valorizar a profissão, para trazer gente mais bem preparada para a sala de aula e para fazer os que já estão nela correr atrás de melhorar. Ninguém escolhe uma carreira só por ideologia. Você olha o que será seu futuro profissional. E a carreira do professor, em geral, não delineia um futuro muito bom. Ela cria uma armadilha. Para o professor avançar em termos de salário, ele é obrigado a deixar de ser professor para ser coordenador ou ser diretor. Tem de abandonar a sala. Isso ocorre justamente quando ele já tem experiência em dar aula. Acho que a carreira tem de dar incentivos para que ele se mantenha na sala”.
A premissa “nada substitui um bom professor” tornou-se, na pandemia do novo coronavírus, ainda mais contundente. Nesta direção, as sábias palavras de Bernardete Gatti nos provocam e são vetores na formação docente.