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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Histórias da Educação (Edição Março/2021)

A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA COMO DISPOSITIVO DE SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE ESTUDANTES

Escrito por Fernanda Gomes Vieira

      A tese de doutorado cujo título é Estudantes sob medida: usos da avaliação psicológica no colégio de aplicação da UFRGS (1959– 1968) foi escrita pela psicóloga e pedagoga habilitada em orientação educacional Juliana Topanotti do Santos de Mello. E título já começa como um trocadilho perspicaz com o livro Escola Sob medida, de Edouard Claparède. Nesta tese a autora traz uma perspectiva singular sobre um assunto delicado e pouco explorado: a avaliação psicológica e sua minuciosa influência no fazer pedagógico. Juliana desbrava os usos dessas avaliações psicológicas dentro das classes secundárias experimentais (CSE) dos cursos ginasial e colegial do Colégio de Aplicação (CAP) da UFRGS em um momento histórico marcado por anseios renovadores para o ensino secundário.


      No primeiro capítulo, a autora explora os testes e técnicas projetivas apropriados no exame de admissão para o curso ginasial do Colégio de Aplicação, ressaltando que não foram usados apenas instrumentos de validação científica, mas também outros que foram produzidos no próprio colégio, como o teste Habilidades para o Trabalho Mental, uma inovação das orientadoras. Esses testes e técnicas tinham como objetivo selecionar as crianças com maior capacidade intelectual (D-48 ou Dominó, HTM) e melhor ajuste social de acordo com os padrões de normalidade, nem sempre brasileira dos testes de personalidade (Desenho de Família, da figura Humana, Wartegg e Zulliger). E, com isso, a autora conclui a triste realidade do exame de admissão que era selecionar crianças com aptidões que as levassem para futuros de profissões especializadas e formações longas.

 

      Já o segundo capítulo coloca o foco nas avaliações psicológicas aplicadas pelo Serviço de Orientação Educacional durante o ano letivo, que serviram também como dispositivos de seleção e classificação dos estudantes dentro da cultura escolar psicologizada do colégio, que encontraram fôlego na liderança de Graciema Pacheco e Isolda Paes. Depois de aprovados no exame de admissão, os estudantes ainda eram submetidos a uma organização da sua vida escolar com base nas avaliações psicológicas das orientadoras educacionais, que formavam o perfil do aluno através dos testes de inteligência e personalidade (Porot, Wartegg, Zulliger, Koch), conversas com as famílias e professores, onde definiam percursos escolares e futuras profissões.


      No terceiro e último capítulo, Juliana reflete sobre os conselhos de classe, espaço onde os resultados das avaliações psicológicas embasavam as avaliações escolares e práticas pedagógicas. Assim, esse ritual para reunir, organizar e formatar a diversidade em trajetórias escolares mais adequadas a cada criança era conduzido nos conselhos de classe pelas orientadoras e reunidas à avaliação geral e de cada disciplina pelos professores. E a partir dos resultados gerais do conselho estes eram classificados por níveis (avançado, suficiente, necessita de atendimento e insuficiente), ou seja, a avaliação psicológica ganhava espaço junto a avaliação escolar e na formação de turmas homogêneas.


      Nas considerações finais, o trabalho de Juliana reflete que a seleção por meio de testes de inteligência e de personalidade trilhava caminhos nada democráticos para os estudantes, indicando um lado conservador da cultura escolar renovadora do Colégio de Aplicação da UFRGS. Por isso, reforço a importância de conhecer essa tese de doutorado e aprofundar pesquisas no uso das avaliações psicológicas, já que elas que possibilitaram sustentar a ideia de escola para todos/as, mas sem expandir esse direito a todas as crianças.

 

 

Fernanda Gomes Vieira -  Aluna do Curso de Pedagogia a Distância (Polo de Balneário Piçarras) da UDESC e bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq.

 
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