Escrito por Norberto Dallabrida
Enzo Tiso Dallabrida, aluno do Colégio Bom Jesus Santo Antônio, estudando em sua casa
A pandemia do novo Corona vírus desconstruiu, de forma inédita e abrupta, a nossa rotina cotidiana. No campo educacional, as atividades presenciais foram as primeiras a serem canceladas e provavelmente serão as últimas a serem retomadas devido à aglomeração massiva nas escolas. Essa interrupção peremptória da presença dos alunos nas unidades escolares confinou-os aos seus lares e, de forma emergencial, foi implementado o ensino remoto – diferente do EAD, que é outra modalidade de ensino.
No início do isolamento social, eu recebi, pelo whats, uma imagem do meu sobrinho Enzo estudando ao lado de um computador e fiquei contente em saber que, mesmo não frequentando a escola, ele estava estudando. No entanto, apesar de ser uma possibilidade de aprendizagem, o ensino remoto apresenta limites sociológicos e pedagógicos sobre os quais devemos refletir para enfrentar a pandemia global. E sobretudo para pensar a escolarização no período pós-pandemia, que ainda não sabemos quando vai começar.
O argumento sociológico é claro: grosso modo, a escola home office é viável para os alunos oriundos das elites e parte da classe média que tem computador e internet em casa e espaço e clima adequados, mas impraticável ou muito difícil para os pobres que estudam em escolas públicas. Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, constata: “Não há sequer banda larga de qualidade na maioria das escolas públicas.
Essa é uma luta que vem sendo travada há anos e que até agora não se concretizou”. E completa: “Se nem na escola pública há internet de qualidade, o que esperar da qualidade da conexão na casa das pessoas?”. Ele se referia, certamente, às pessoas socialmente vulneráveis – os pobres.
No campo pedagógico brasileiro, o argumento sociológico sempre se impõe porque a desigualdade social é gritante e vergonhosa – e, com a pandemia, ganhou visibilidade. No entanto, é imprescindível atentar para o aspecto didático-pedagógico, ou seja, para as perdas no processo de ensino-aprendizagem com o ensino remoto.
Maria José Nóbrega, assessora pedagógica em São Paulo, acredita que os prejuízos serão maiores entre as crianças de 5 anos (educação infantil) e 6 anos (1º ano do ensino fundamental) porque estão sendo alfabetizadas. Ela assevera: “A alfabetização exige conhecimento científico.
Nem todo o professor que fez pedagogia se sente capaz de ser alfabetizador, porque há uma especialização dentro da área”. E os pais/mães podem atrapalhar o processo de alfabetização ao querer impor a forma avoenga como foram alfabetizados.
Se no ensino superior a educação online ou híbrida é mais viável, na educação básica e particularmente nos anos iniciais do ensino fundamental, a situação é mais complexa, demandando um plano de recuperação de aulas presenciais que tenha ao mesmo tempo equidade e eficácia.