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Jornal da Educação

Histórias da Educação (Edição Novembro/2018)

Os campos de experiência na educação infantil

Escrito por Jucile Dias

    Os campos de experiência, cujo arranjo curricular hoje compõe a Base Nacional Curricular Comum da Educação Infantil (BNCC), tomam como referência conceitual e metodológica a Pedagogia da Infância e a ideia central de que as crianças aprendem na e pela experiência, portanto, agindo e interagindo com o mundo físico e social.

 

     Vêm na direção de superar uma lógica disciplinar na educação dos bebês, das crianças bem pequenas e pequenas. Sob a inspiração das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (BRASIL, 2009), propõem que o trabalho pedagógico tome como unidade referencial a vida societária, a pluralidade das manifestações culturais, ancorados nas interações, brincadeira e diferentes linguagens.

 

     Embora os campos de experiência tenham gerado discussões intensas entre pesquisadores, professores e gestores educacionais, há que se destacar que já no Parecer 20/2009 (BRASIL, CNE, CEB) que revisa as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, estava sinalizado que os currículos na Educação Infantil podem ser organizados por eixos, módulos de experiências ou centros, desde que estejam articulados aos princípios éticos, estéticos e políticos que orientam as propostas pedagógicas na Educação Básica.

 

    Os campos de experiência se articulam com direitos de aprendizagem e desenvolvimento, quais sejam: o direito de conviver; de brincar, de participar, de explorar, de expressar e de conhecer-se.

 

     Em nosso ponto de vista, os campos de experiência e os direitos de aprendizagem e desenvolvimento desafiam os professores e professoras da Educação Infantil a realizarem o planejamento e a avaliação em contexto, na medida em que uma Pedagogia da Infância e da Educação Infantil toma como unidade básica do planejamento a criança e sua ação, a criança, seus interesses, suas hipóteses, suas descobertas, suas necessidades.

 

    De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, esse planejamento em contexto ficaria estruturado então nos seguintes campos de experiência: “O eu, o outro, e o nós”; “Corpo, gestos e movimentos”; “Traços, sons, cores e formas”; “Escuta, fala, pensamento e imaginação”; “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”.

 

     Nessa perspectiva educativa, o papel do professor de Educação Infantil seria de planejar, selecionar, organizar, mediar e intervir pedagogicamente no conjunto das interações e experiências, promovendo uma pluralidade de situações formativas em prol do desenvolvimento integral das crianças de 0 a 5 anos de idade e 11 meses.

 

     Embora possamos considerar do ponto de vista curricular, que tal proposição seja um salto qualitativo para a Educação Infantil brasileira, que a rigor, ainda luta para superar heranças da assistência científica, das ideias guardiãs, compensatórias e preparatórias na educação das crianças, consideramos que há questões merecedoras de crítica em relação à Base Nacional Comum Curricular e aos campos de experiência.

 

     Nossa crítica incide sobre a concepção fundante da Base em definir de forma linear e ascendente os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento por faixa etária. Em nosso entendimento, isso entra em profunda contradição com a própria definição de criança e pedagogia que o próprio documento define. Ainda, a identificação desses objetivos com códigos específicos, acende o alerta de que há por detrás de tal concepção um ideal de propor avaliações em larga escala na Educação Infantil, que num viés arbitrário e descontextualizado, avaliem as crianças e seu desempenho cognitivo, sem levar em conta aspectos estruturais da política educacional e do trabalho pedagógico.

 

    Também merece destaque um dilema que vivemos desde a ampliação do Ensino Fundamental de nove anos, qual seja, a ausência de uma transição curricular entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. Isso muito nos preocupa, na medida em que os textos da Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental parecem indicar defesas conceptuais e metodológicas para organização dos currículos que não dialogam entre si.

 

     O debate em torno de como será feita a transposição desses conceitos e princípios para a concretude da ação educativa e do ato pedagógico para e com as crianças de pouca idade é o grande desafio que se coloca para a formação inicial e continuada de professores e professoras da Educação Infantil.

 

Julice Dias Professora do Departamento de Pedagogia da FAED/UDESC. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da FAED/UDESC. Pesquisadora do GEDIN.

 
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