Escrito por Gladys Mary Ghizoni Teive e Norberto Dallabrida
No final do ano passado veio à lume o volume 2 da obra “Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha: memórias e histórias (1858-2008)”, organizada pelas professoras Maria Helena Camara Bastos, Alice Rigoni Jacques e Dóris Bittencourt Almeida e com o selo da EDIPUCRS. Trata-se de uma segunda coletânea sobre a história do Colégio Farroupilha – escola privada localizada na cidade de Porto Alegre –, fruto de um projeto de pesquisa que congregou várias instituições educativas de nível superior e médio.
O atual Colégio Farroupilha foi fundado, em 1886, pela Associação Beneficiente Alemã com o nome de Knabenschule des Deutschen Hilfsverein (Escola de Meninos da Associação Beneficente Alemã). Em 1904, essa associação germânica de corte luterano criou a escola para meninas (Mädchenschule) e, sete anos depois, foi criado o jardim da infância (kindergarten), para ambos os sexos – considerado o primeiro de Porto Alegre – fato que provocou a prática da coeducação também no ensino primário. Em 1936, foi criado o Ginásio Teuto-Brasileiro Farroupilha, que, com os áreas nacionalizadores da ditadura estadonovista perdeu o miolo do nome e deixou de ensinar a língua alemã. Treze anos depois, com a instituição do colegial passou a se chamar Colégio Farroupilha, nome que conserva até hoje.
É sobre essa longa e descontínua história que os dois volumes da obra “Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha: memórias e histórias (1858-2008)” colocam o foco de forma temática a partir de um acervo comum: o Memorial do Colégio Farroupilha. Ou seja, a grande maioria dos textos que compõem essa coletânea exploram aspectos específicos das culturas escolares centenárias da escola tal como escritas e desenhos infantis, cadernos escolares de diferentes disciplinas, práticas de clubes, biblioteca, trajetórias docentes, imprensa escrita (jornais), festas e diários. Desta forma, a partir de diferentes aportes teórico-metodológicos e de fontes singulares, os livros em tela oferecem leituras da caixa-preta do atual Colégio Farroupilha, explorando os diferentes níveis de ensino.
Os dois volumes da obra “Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha: memórias e histórias (1858-2008)” lançam luz sobre o estabelecimento de uma escola étnica e a sua transformação em um colégio nacional, processo similar em outros educandários brasileiros, particularmente os localizados no sul do Brasil. E também revela as culturas escolares específicas dos diferentes níveis de ensino conectadas com processos sociais e educativos mais amplos em níveis regional, nacional e mundial.
* Professores da UDESC e autores de “A Escola da República: os grupos escolares e a modernização do ensino primário em Santa Catarina (1911-1919) (Editora Mercado de Letras, 2011)