Escrito por Yomara Feitosa Caetano Oliveira
Estudo do meio no cemitério da cidade de Americana (1964). Alunos (as) do Ginásio Estadual Vocacional João XXIII, da cidade de Americana
Na pauta da educação básica está à produção de um currículo comum para toda criança e jovem brasileiro incluído neste processo de escolarização. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que prescreve integrar saberes sob a batuta da área das ciências humanas, e tão logo entre em vigor servirá como base para todas as escolas do país.
Neste campo de disputa curricular se sabe que, historicamente, nem sempre os conteúdos alocados para as disciplinas de história e geografia foram apresentados separadamente para alunos/as.
Nas décadas de 1950 e 1960, a disciplina de Estudos Sociais englobou conteúdos históricos e geográficos, e estiveram em funcionamento às classes experimentais e no ensino vocacional, sendo experiências filiadas à renovação pedagógica do movimento da escola nova.
Estas buscavam a integração disciplinar por meio do uso de práticas como: estudo do meio, trabalho em equipe e estudo dirigido, perseguir a aproximação dos alunos/as com a realidade social forjando, assim, outra cultura escolar.
As classes experimentais do ensino secundário aconteceram em parte do território nacional, durante os anos de 1950 e início de 1960, com aulas ativas relacionando o meio social com saberes da geografia e da história integrados.
Na década de 1960, os ginásios e colégios (atuais, anos afinais do ensino fundamental e o ensino médio) vocacionais do estado de São Paulo usaram os Estudos Sociais como área, incluindo saberes da Geografia Geral e do Brasil e História Geral e do Brasil, tendo os professores em duplas (um de geografia e outro de história) operando a integração destes saberes com os demais.
Nos vocacionais funcionaram a tão controvérsia dualidade dos objetivos da escola média, entre cultura geral acadêmica e a profissionalização, pois tinham o respaldo da equivalência dos cursos profissionais com cursos clássicos e científicos, prescrito na Lei de Base da Educação Nacional 4.042 de 1961, mesmo após o golpe de 1964 até o fechamento autoritário em 1969.
Ao longo da experiência vocacional buscou-se o aprofundamento do ensino integrado via Estudos Sociais, acrescentando além da geografia e história, noções dos saberes da antropologia, sociologia e filosofia reafirmando a área no currículo, bem como foi sendo refinada a função problematizadora de todas as demais (português, matemática, ciências, Inglês, práticas educativas e matérias de iniciação técnica).
Os professores e alunos/as tiveram espaço nesta cultura escolar para empreender reflexões sobre quais recortes de cultura se deveria abordar em Estudos Sociais como saber escolar. Nesta autonomia, os docentes se apropriaram de autores como: Lucien Febvre (1878-1956) e Josué de Castro (1908-1973), entre outros.
Os Estudos Sociais nos vocacionais forjou uma cultura escolar aonde todos os saberes tinham a mesma preocupação em renovar o espírito crítico, produzir consciências históricas nos jovens/crianças, ainda percebendo, reelaborando e verticalizando as singularidades de cada campo de saber humano.
O foco desta reflexão não é reafirmar a noção de fronteiras entre os campos de saberes das ciências humanas e/ou sociais aplicadas, mas sim, usar de um deslocamento para compreender as culturas escolares renovadas, como a realizada nos vocacionais que se posicionaram pela tomada de consciência dos jovens/crianças sobre o mundo onde viveram, valorizando docentes qualificados em dialogar e compreender cada campo de saber.
Além disso, destacaram as zonas de contato entre os saberes, por meio do “desenvolvimento do espírito crítico com relação a preconceitos e a excessos de tradicionalismo e de conservadorismo” (Balzan, 1966, fls.3).
Referências
BALZAN, Newton César. Relato de Estudos Sociais. 1966. 391 p. São Paulo. Arquivo Maria Nilde Mascellani: centro de Memória da faculdade de educação da Universidade de São Paulo.
BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Por Yomara Feitosa Caetano Oliveira* é discente do programa de doutorado em História Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Grupo de pesquisa: Cultura Escolar, História e Tempo Presente. E-mail: Ver email