Escrito por Norberto Dallabrida
Em novembro de 2017, o mundo ocidental está rememorando o centenário da eclosão da Revolução Russa ou bolchevique – mais conhecida na Rússia como “Revolução de Outubro”.
Alguns dizem que não há nada para celebrar, outros indicam que o melhor legado dessa guinada histórica foi a social-democracia e poucos ainda acreditam que ela foi um grande passo em direção à emancipação humana.
Contudo, o “socialismo real” da URSS foi o fato estruturante do século XX, que provocou a reforma do capitalismo e processos de descolonização.
No campo pedagógico, penso que vale a pena reler as experiências escolares soviéticas da década de 1920, que, em boa medida, foram pautadas por ideias escolanovistas. Sobre esse tema, vem-me à mente o subcapítulo “A crítica `escolanovista´: outra forma de biopoder” do livro “A invenção da sala de aula: uma genealogia das formas de ensinar”, de Inés Dussel e Marcelo Caruso.
Trata-se de uma leitura foucaultiana do movimento da Escola Nova, que é analisado em três grandes áreas geográficas – os EUA, a Europa e a URSS. Essa parte do livro é instigante e consistente devido ao embasamento teórico apropriado de Michel Foucault e à abrangência mundial.
Ao se referir à URSS, Dussel e Caruso afirmam que “durante a década de 1920, a nascente União Soviética foi um espaço para centena
[...] Embora os pedagogos russos tivessem orientações muito diferentes – uns aboliram o sistema de notas, outros criaram repúblicas infantis, outros aplicaram testes, etc. –, todos estiveram muito envolvidos com a questão de como seria possível integrar a aprendizagem e a atividade – e a atividade por excelência era o trabalho.
Tratava-se de fazer com que as crianças não só soubessem trabalhar, mas também que, por meio de sua própria aprendizagem, entendessem como funcionam os sistemas econômicos e que pudessem participar deles de maneira igualitária.”
O texto também dá destaque para dois pedagogos na emergência União Soviética. Por um lado, lembra de Pavel Blonkij, autor da obra intitulada “Escola do Trabalho Industrial” (1919), que dividia a educação elementar em duas fases: a primeira, pensada em torno do jogo infantil; e segunda, a partir dos 8 anos, que deveria funcionar como uma “oficina de trabalho”, em que as crianças conheceriam as máquinas e seus funcionamentos.
De outra parte, refere-se ao trabalho pedagógico de Nadheza Krupskaia, esposa de Lênin, que propunha o “ensino integrado” – diríamos hoje interdisciplinar ou transdisciplinar – nos planos de estudos de 1923 para o ensino soviético.
A criatividade pedagógica na União Soviética dos anos 1920, reprimida pelo totalitarismo stalinista, merece ser relida neste momento de memórias provocadas pelo centésimo aniversário da Revolução Russa – e de reinvenção didático-pedagógica da escola.