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Jornal da Educação

Histórias da Educação (Edição Novembro/2013)

Professora Eglê Malheiros

Escrito por Norberto Dallabrida

    Neste mês em que se comemora o “Dia do Professor”, eu gostaria de rememorar a trajetória de uma educadora marcante na história catarinense. 

 

    Trata-se de Eglê Malheiros, docente de escola pública de várias gerações de adolescentes de Florianópolis. 

 

    Eglê Malheiros é conhecida como uma das poucas mulheres que integrou, de forma ativa, o Grupo Sul, associação formada por jovens escritores e artistas que sacudiu o campo artístico-cultural catarinense a partir de 1958, especialmente por meio da publicação da Revista SUL. 

 

    Ela se destacou como poeta, ensaísta, atriz de teatro e co-roteirista do filme O Preço da Ilusão – o primeiro produto da sétima arte na capital catarinense. 

 

    De outra parte, Eglê também é conhecida no campo político como uma das raras mulheres militantes do antigo PCB, diferenciando-se do padrão feminino dominante nos “anos dourados”.  Por isso, ela é uma mulher diferente.

 

    Quando era estudante do Curso de Direito em Florianópolis, Eglê Malheiros ingressou, em 1947, por concurso público, no antigo Instituto Estadual de Educação, como professora de História. 

 

    A sua carreira docente foi interrompida pelo golpe militar de 1964 – mais precisamente no dia “Primeiro de Abril” como sugere o título do livro do seu marido, Salim Miguel –, quando foi presa e, posteriormente, “colocada em disponibilidade”. 

 

    A sua prática docente foi estudada por Maristela da Rosa, na sua dissertação de mestrado intitulada “Rompendo normas: trajetória social e prática docente de Eglê Malheiros no Colégio Estadual Dias Velho (Florianópolis, 1947-1964)” – defendida, neste ano, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UDESC.

 

    À luz de seu envolvimento como o modernismo do Grupo SUL e de sua militância comunista, a professora Eglê ensinava História nos cursos ginasial e normal, de forma crítica e criativa. 

 

    Num depoimento citado no trabalho de Maristela, ela afirma: “Eu procurava lecionar uma História que não fosse uma relação de datas, de guerras e de chacinas, embora claro, não deixasse de falar nisso; mas eu procurava valorizar as realizações humanas, a arte, a ciência, o intercâmbio entre as pessoas, porque os livros didáticos adotados, em geral eram uma simples relação de nomes”. 

 

    Maristela analisa algumas formas inovadoras de ensinar História que foram movimentadas por Eglê como a problematização da condição de traidor conferida a Calabar durante a invasão holandeza em Pernambuco e o uso dos conceitos “pacto colonial” e “latifúndio” para ler a América Portuguesa, revelando a sua fundamentação teórica marxista.

 

    Na sua prática docente, Eglê não se acomodou à visão história de corte nacionalista e “tradicional” plasmada durante a ditadura estadonovista, que, em boa medida, permaneceu vigente no período da redemocratização, sendo apropriada pela grande maioria dos livros didáticos. 

 

    Na sala de aula, estimulava a realização de resenhas livros de História e de Literatura, que não fossem de caráter didático – fato que é recordado pelos seus ex-alunos.

 

    Luiz Henrique da Silveira, estudante do antigo Instituto Estadual de Educação e atual senador da República, afirma: “Eu aprendi com a professora Eglê Malheiros que uma das formas fundamentais de ensinar Língua Portuguesa era induzir os alunos a lerem e a comentarem o livro de leitura”.

 

    No atual momento histórico em que a formação e a carreira do/a docente estão no centro da pauta educacional, a trajetória profissional da professora Eglê Malheiros na escola pública catarinense é uma experiência emocionante e inspiradora.

 
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