O primaveril mês de outubro é das crianças e dos professores/as. A proximidade da celebração de seus dias é um indicativo de seu encontro educativo no mundo escolar. Desde o início da Idade Moderna, momento em que a educação deixou de ser dirigida aos adultos, naturalizamos a tríade professor/a-escola-criança.
No mês das festas catarinenses por excelência, este canto da página tem privilegiado reflexões sobre o/a professor/a. Neste ano não será diferente porque um fato obrigou-me a discorrer sobre um docente da primeira metade do século XX. Trata-se do lançamento do livro “Professor Areão: experiências de um ‘bandeirante paulista do ensino’ em Santa Catarina (1912-1950)”, organizado por Gladys Mary Ghizoni Teive e com o selo da Editora Insular, que ocorrerá no final deste mês. Essa coletânea, organizada por uma curriculista de mão cheia com sensibilidade e consistência histórica, é formada por seis capítulos – escritos por pesquisadores da UDESC e do INEP.
Por que o professor Areão é considerado “um bandeirante paulista do ensino” no território catarinense? Para compreender essa afirmação é preciso considerar que, na instituição do regime republicano e federativo no Brasil, na década de 1890, o Estado de São Paulo foi o pioneiro da modernização do ensino primário por meio da reforma da Escola Normal de São Paulo e da implantação do modelo do grupo escolar. Considerado “a locomotiva do Brasil”, essa unidade da federação disseminou a modernidade pedagógica no ensino primário por todo o país, especialmente por meio das “Missões de Professores Paulistas”.
Em Santa Catarina, o Governo Vidal Ramos contratou o professor paulista Orestes Guimarães, que, a partir de 1911, na condição de “Inspetor Geral do Ensino”, reformou a Escola Normal Catarinense e implantou os grupos escolares em Santa Catarina, viabilizando a vinda de professores paulistas para dirigi-los. Assim, no ano seguinte, João dos Santos Areão foi designado para o cargo de diretor do Grupo Escolar Jerônimo Coelho, localizado em Laguna – cidade que lhe deu projeção profissional e a mulher com quem se casaria. Na “Reforma Orestes Guimarães”, Areão atuou também como diretor dos grupos escolares de Lages e de Tubarão. Nas cidades onde atuou, além de ser considerado um diretor exemplar, desenvolveu liderança comunitária por meio da implantação da escola de escotismo, da animação de associações artísticas e do pertencimento a lojas maçônicas.
Com a morte de Orestes Guimarães, em 1931, assumiu o cargo por ele ocupado de “Inspetor Federal das Escolas Subvencionadas pela União”, envolvendo-se no processo de nacionalização do ensino. Nesta direção, o professor Areão integrou a chamada “embaixada educacional”, grupo de técnicos que coordenava as “semanas educacionais”, que tinha o fito de nacionalizar o ensino primário. Ademais, como inspetor das associações escolares, dedicou-se à disseminação do canto orfeônico nas escolas catarinenses – exercitando o seu pendor musical.
Até a sua aposentaria em 1950, João dos Santos Areão teve atuação significativa na consolidação dos grupos escolares e na campanha de nacionalização do ensino. As facetas dessa trajetória educacional são relidas na criativa obra organizada pela por Gladys Teive.