Livro e escola. Esta talvez seja uma das associações mais frequentemente feitas pelas pessoas, mesmo por aquelas que jamais estiveram em uma escola. O livro constitui-se, certamente, em uma das principais “senhas de identidade” da escola, posto que diz sempre algo sobre o que foi ensinado ou o que pretendeu-se ensinar, em diferentes épocas. Nele estão registrados os conhecimentos, crenças e valores considerados mais válidos, haja vista a sua função de participar do processo de socialização das jovens gerações.
Mesmo nos momentos em que a escola foi fortemente criticada pela sua feição livresca e o livro teve o seu lugar relegado a coadjuvante no proceso de ensino-aprendizagem, ainda assim ele não deixou de estar presente no cotidiano das salas de aula. Não sem razão, nas antigas fotografías escolares, feitas para a recordação dos alunos, regra geral, vemos uma criança de uniforme, tendo à sua frente uma mesa ou carteira escolar e sobre ela uma pilha de livros ou um livro aberto.
O livro escolar é, sem dúvida, uma expressão operativa do currículo prescrito e, dado o seu peso no proceso de produção de subjetividades e identificações, em muito países, ao invés do currículo nacional, há o livro nacional, suporte das verdades que a sociedade acredita ser necessário transmitir às crianças e aos jovens. Analisá-lo consiste, pois, em uma tarefa imprescindível para os interessados na história do currículo e da cultura escolar. Esta não é, todavía, uma tarefa simples.
Há poucos centros de pesquisa dedicados à sua análise, com destaque para o projeto Emmanuelle, desenvolvido pelo Institut National de Recherche Pédagogique, em Paris, o Instituto Georg Ecker, na Alemanha, e o Centro de Investigación en Manuales Escolares –MANES, em Madri, na Espanha – no qual realizo estágio pós-doutoral. Idealizado em 1992 pelo profesor doutor Federico Gómez Rodríguez de Castro, da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), o MANES possui duas vertentes: uma de carácter instrumental (histórico-documental) e outra de cunho investigativo. A primeira consiste no levantamento dos manuais escolares publicados na Espanha, bem como das disposições legais, programas de ensino, etc. A segunda consiste na realização de um conjunto de investigações e de análises historiográficas em torno das características bibliométricas, editoriais, político-pedagógicas e curriculares dos livros escolares, seguindo várias linhas de investigação ligadas à história da educação, história cultural e a história do currículo e da cultura escolar.
Ao longo de seus vinte anos de existência, ao MANES somaram-se investigadores de outras universidades espanholas, europeias e latino-americanas, o que lhe conferiu um caráter interuniversitário e internacional e tem contribuído para o fortalecimento do campo da chamada “manualística” e da investigação histórico comparada em educação escolar, a partir do estudo dos livros e manuais escolares.
*Gladys Mary Ghizoni Teive - Professora da UDESC. Autora de “Política de modernização econômica e formação de professores em Santa Catarina”; “Uma vez normalista, sempre normalista” e “A Escola da República – os grupos escolares e a modernização do ensino primário em Santa Catarina (1911-1918)”, em parceira com Norberto Dallabrida.