Escrito por Norberto Dallabrida
No início deste ano, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UDESC, foi defendida a dissertação sob o título “Mulheres destinadas ao êxito: trajetórias escolares e profissionais de ex-alunas do Curso Científico do Colégio Coração de Jesus de Florianópolis (1949-1960)”, de Estela Maris Sartori Martini. Esse trabalho acadêmico faz uma revisão das trajetórias sociais de alunas do ensino secundário de um colégio católico e de elite na década de 1950.
Em Santa Catarina, o Colégio Coração de Jesus (CCJ) foi o primeiro educandário a oferecer, a partir de 1947, o Curso Científico – segundo ciclo do ensino secundário. A dissertação de Estela Maris analisa em perspectiva sócio-histórica, fundamentada em Pierre Bourdieu e Bernard Lahire, os percursos escolares em nível superior e as carreiras profissionais de alunas egressas do Colégio Coração de Jesus entre 1949 e 1960. Essas datas-limite correspondem respectivamente à formatura da primeira turma de alunas do Curso Científico do CCJ e a criação da UFSC, que expandiu, de forma expressiva, o ensino superior em Florianópolis.
A pesquisa de Estela Maris revela que 80% das ex-alunas do Curso Científico do CCJ ingressaram no ensino superior, sendo que os cursos mais freqüentados foram Licenciaturas, Direito, Odontologia e Farmácia. Quatro delas fizeram Medicina e duas, Ciências Econômicas. A grande maioria dessas “mulheres destinadas ao êxito”, pela origem social privilegiada e por freqüentar um colégio de elite, teve carreira profissional pública, atuando como funcionária pública, professora de ensino médio e universitário, profissional liberal e empresária.
Essas carreiras profissionais indicam que, na década de 1950, um grupo de mulheres das classes abastadas atuou efetivamente no espaço que até então era ocupado quase que exclusivamente por homens.
O trabalho de Estela Maris é ainda mais instigante quando procura compreender em profundidade as trajetórias sociais de duas alunas egressas de origem popular, que tiveram carreiras profissionais exitosas, mas trilharam caminhos diferentes. A ex-aluna Zélia Maria Gerent fez Curso de Medicina na UFRGS, atuou como médica em Porto Alegre e teve uma vida pautada pelo catolicismo.
Por outro lado, a ex-aluna Marlene de Souza Soccas cursou a Faculdade de Farmácia e Odontologia de Florianópolis, atuou como dentista e fez Curso de Pós-Graduação na Universidade de São Paulo, onde se engajou na militância de esquerda.
Em 1970, ela foi presa e torturada em São Paulo junto com outras universitárias, entre as quais a jovem Dilma Rousseff – atual presidenta da República.
A dissertação “Mulheres destinadas ao êxito” nos proporciona uma revisão da inserção profissional das mulheres em perspectiva histórica e reflete como as origens sociais dos/as estudantes pautam as suas carreiras profissionais.