Escrito por Norberto Dallabrida
No mês passado, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau (FURB), foi defendida a dissertação de mestrado sob o título “Memórias de uma escola: Pedro Nava e o Colégio Pedro II”, de Cleusa Aparecida Fogaça da Silva, sob a orientação da professora Rita de Cássia Marchi. Trata-se um uma reflexão sociológica das memórias escritas por Pedro Nava acerca do Colégio Pedro II do Rio de Janeiro na segunda década do século XX.
Pedro Nava foi um médico que apreciava as artes e a literatura. A partir de 1968, aos 64 anos, iniciou a redação de suas memórias, que totalizaram sete volumes. No segundo volume, Balão Cativo, ele lembra as suas experiências em diferentes escolas primárias e no Colégio Anglo-Mineiro. No terceiro livro, Chão de Ferro, Pedro Nava rememora a sua vida estudantil como aluno interno do renomado Colégio Pedro II da capital federal, entre os anos de 1916 e 1920. É sobretudo sobre esses dois volumes de memórias que a dissertação de Cleusa se debruça.
O ingresso de Pedro Nava no Colégio Pedro II é compreendido em perspectiva sociológica, a partir das categorias de análise de Pierre Bourdieu. A família de Pedro Nava tinha uma condição social privilegiada, mas com a morte do seu pai – que era médico e havia exercido essa profissão na capital da República – passou por dificuldades financeiras. No entanto, a rede de relações familiares, especialmente a posição social e o capital cultural dos tios, e o prestígio do nome da família (capital simbólico) concorreram para que o adolescente Pedro Nava ingressasse no colégio-padrão do Brasil e como aluno gratuito, que viabilizou a sua entrada no Curso de Medicina.
Ainda mais instigante é a reflexão que o trabalho de Cleusa faz das memórias de Pedro Nava como aluno interno do Colégio Pedro II. Nesse olhar sobre a caixa-preta dessa “instituição formal das elites”, destaca-se o trote aplicado pelos veteranos sobre os novatos, o regime disciplinar do internato, os uniformes escolares, as desejadas saídas semanais, que permitiam oxigenar a dura vida estudantil e conhecer a charmosa e afrancesada cidade do Rio de Janeiro.
Por outro lado, o foco é colocado sobre as memórias do aluno egresso Pedro sobre as “disciplinas-saber” e seus respectivos professores, indicando que havia divergências de interpretação dos conteúdos que deveriam ser didatizados. Ademais, é explorada a iniciação de Pedro Nava no mundo dos livros e das bibliotecas, bem como o seu contato com as livrarias do Rio de Janeiro – freqüentadas por escritores famosos da época.
A dissertação de mestrado de Cleusa sobre o Colégio Pedro II nas memórias de Pedro Nava nos brinda com uma releitura do colégio-padrão de ensino secundário da Primeira República, muito importante para a História da Educação Brasileira. E nos faz refletir sobre o caráter flutuante das memórias.