Neste início do ano do centenário da morte de Joaquim Nabuco, autor de “O Abolicionismo”, a questão da educação de afrodescendentes foi revisitada por meio de duas dissertações de mestrado defendidas na UDESC. Elas abordam experiências de escolarização de descendentes de africanos entre final do período imperial e as primeiras décadas da era republicana.
A dissertação de mestrado de Graciane Daniela Sebrão, sugestivamente intitulada “Presença/ausência de africanos e afrodescendentes no processo de escolarização em Desterro – Santa Catarina (1870-1888)”, focaliza a invisibilidade dos africanos nos diferentes níveis de ensino no final do período imperial. Esse trabalho mostra algumas intenções decorrentes a Lei do Ventre Livre (1871) e pouquíssimas iniciativas de inclusão de afrodescendentes em algumas instituições educativas como a Escola de Aprendizes Marinheiros e as escolas noturnas para adultos, bem como a subvenção de alunos pobres no ensino secundário. Essa situação é próxima dos descendentes de indígenas e contrasta com as redes escolares de imigrantes europeus.
A pesquisa de Graciane indica que foram raros os casos de inclusão de afrodescendentes no sistema de ensino e boa parte deles não são registrados em documentos históricos. O caso mais emblemático analisado foi o do poeta Cruz e Souza, filho de escravos, que realizou estudos na escola elementar e no ensino secundário. O menino João da Cruz e Souza aprendeu as primeiras letras com Clarinda Sousa e freqüentou a “escola de D. Camila”. Devido ao seu desempenho escolar e contatos sociais, ele ingressou no Colégio da Conceição e, posteriormente, no Ateneu Provincial, quando teve a ajuda dos cofres da Província de Santa Catarina. O grande poeta simbolista foi uma rara exceção na cidade de Nossa Senhora do Desterro em fins do século XIX, pois os afrodescendentes eram excluídos nas escolas.
A dissertação de mestrado “Educação no pós-abolição: um estudo sobre as propostas educacionais de afrodescendentes (São Paulo, 1918-1931)”, de Willian Robson Soares Lucindo trata de experiências educativas na capital do Estado de São Paulo durante a Primeira República. Ela constata que, no Estado de São Paulo, a implantação do regime republicano não representou avanços significativos, no campo escolar, para os afrodescentes, pois a modernização pedagógica estabelecida com a criação dos grupos escolares favoreceu os filhos de imigrantes europeus. O trabalho de Willian também dá visibilidade a algumas associações comunitárias que procuraram proporcionar educação crítica e consistente para descendentes de africanos, particularmente a partir da década de 1920.
Esses trabalhos históricos são contribuições significativas para a historiografia da educação pelo fato de indicar a exclusão de afrodescendentes no sistema escolar brasileiro, que se desdobra até os dias de hoje.