Não foi sem razão o fato de a Escola Normal Catarinense ter sido a primeira instituição escolar reformada por Orestes Guimarães a partir de 1911. Dali sairiam as professoras intuitivas - “heroínas anônimas da República - a semear o novo jeito de ensinar e de aprender, sedimentado nos postulados da pedagogia moderna. Não foram poupados esforços para a sua reestruturação/modernização. Novos espaços e tempos, novas disciplinas, conteúdos e práticas escolares, tudo selecionado segundo os princípios pedagógicos modernos da utilidade, concreticidade e praticidade do conhecimento.
A nova cultura escolar inaugurada no “viveiro de professores” deveria assegurar-lhe o preparo para produzir o cidadão patriota, prático, higiênico, útil a pátria, o cidadão racional, entendido como aquele que respeita as leis, ama a pátria e confia no progresso social e científico. Os mesmos princípios foram seguidos no que se refere à formação prática das mestras, ou seja, a professora deveria aprender a educar pelo método de educar, pela observação e imitação de práticas pedagógicas-modelo desenvolvidas nos grupos escolares.
Contudo, tendo em vista a existência de apenas uma escola normal no Estado de Santa Catarina, sediada na sua capital, a reforma propôs a exigência de formação ao nível de curso normal apenas para os professores dos grupos escolares, facultando aos professores das escolas reunidas e isoladas (a grande maioria) a formação ao nível complementar e, ainda, face ao reduzido número destas (só havia quatro escolas complementares até 1918), permite o exercício do magistério aos chamados professores leigos ou provisórios, desde que observassem por um mês “a prática” nos grupos escolares.
Contrariamente, portanto, ao desejo anunciado de difundir uma educação moderna a toda a população, a oferta era bastante seletiva: a Escola Normal, uma escola de excelência, formava mestras para os grupos escolares – uma escola primária também de excelência; e as escolas complementares, com um ensino mais simplificado, habilitavam professoras para as escolas reunidas e isoladas, também mais simplificadas, o que terá grande impacto na profissionalização docente catarinense.
* Professora da UDESC e autora dos livros “Modernização econômica e formação de professores em Santa Catarina (Editora da UFSC, 1998) e “Uma vez normalista, sempre normalista” – cultura escolar e produção de um habitus pedagógico (Escola Normal Catarinense – 1911-1935)” (Editora Insular, 2008). E-mail: Ver email