Logo da Universidade do Estado de Santa Catarina

Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Histórias da Educação (Edição Junho/2007)

Escola pública e laicidade

Escrito por Norberto Dallabrida

    Há mais de dois meses radicado em Paris, eu começo a ensaiar alguns cotejos entre a cultura escolar francesa e brasileira. Na escola pública da França, o que salta aos olhos é a tradição republicana e laica, que contrasta com o sistema escolar público brasileiro.

 

     A laicidade na escola pública francesa é uma discussão atual e polêmica. Em 15 de março de 2004, foi aprovada, pelas instâncias cabíveis, uma lei que proíbe o uso de símbolos religiosos como o véu muçulmano, o quipá judaico e as grandes cruzes cristãs, pelos alunos e professores das escolas estatais. O cumprimento desta lei deu-se de forma conflituosa, pontuada por resistências individuais e por movimentos sociais, especialmente organizados por muçulmanos, que se desdobram até os dias atuais.

 

     Deve-se notar que nos espaços públicos observa-se que mulheres e homens ostentam muito mais símbolos religiosos do que no Brasil. No entanto, nas instituições públicas como o sistema escolar, a cultura é laicizada. Trata-se da manutenção e atualização da tradição republicana inventada durante a Revolução Francesa - no final do século XVIII - e consolidada na Terceira República francesa, quando o Estado foi, definitivamente, separado da Igreja Católica (1905).

 

     A república brasileira, instituída em 1889 e fundamentada em boa medida no positivismo comtiano, ensaiou laicizar as suas instituições. No entanto, logo após a Revolução de 1930, procurando costurar uma aliança duradoura com a Igreja Católica, o governo provisório chefiado por Getúlio Vargas, reintroduziu a disciplina Ensino Religioso nas escolas públicas, que se mantém até hoje. É um traço do currículo da escola pública brasileira de longa data estranha à laicidade da República verde-amarela, que atravessou governos de diferentes cores político-ideológicas. Em nível nacional, nos últimos anos, essa questão não foi discutida a contento tanto pelo governo tucano de FHC como pelo governo petista de Lula.

 

     A tradição republicana e laica da França, portanto, problematiza a intervenção religiosa das diversas igrejas organizadas na escola pública brasileira, especialmente por meio da disciplina Ensino Religioso. 

 

*Professor na UDESC e autor de "A fabricação escolar das elites: o Ginásio Catarinense na Primeira República" (Editora Cidade Futura). E-mail: Ver email

 
ENDEREÇO
Av. Madre Benvenuta, 2007 - Itacorubi - Florianópolis - SC
CEP: 88.035-001
CONTATO
Telefone:
E-mail: comunicacao.cead@udesc.br
Horário de atendimento:  13h às 19h
          ©2016-UDESC
Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.

Utilizamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no Portal da Universidade do Estado de Santa Catarina. Ao continuar navegando no Portal, você concorda com o uso de cookies.