Escrita por Norberto Dallabrida
A recente edição especial da revista "Nova Escola" tem como tema os grandes educadores, da Grécia antiga ao mundo contemporâneo. Trata-se de uma boa síntese de 41 pensadores que se debruçaram sobre o fenômeno educativo, que inicia por Sócrates e termina com Howard Gardner, contemplando os educadores escolanovistas. Entre os brasileiros, estão citados Anísio Teixeira e Paulo Freire, mas Lourenço Filho, infelizmente, não foi incluído.
No entanto, o que mais me chamou a atenção foi o título do ensaio introdutório: "Pensar a escola, uma aventura de 2500 anos". Como historiador, refleti sobre a naturalização da escola ao longo de mais de vinte e cinco séculos, que contempla os períodos antigo, medieval, moderno e contemporâneo. É bem verdade que o texto diz que "antes mesmo de existirem escolas, a educação já era assunto de pensadores", mas o título sugere que a escola é um fenômeno de longuíssima duração. Isso me fez pensar sobre o nascimento da escola.
Na nova historiografia da educação, a escola como nós a conhecemos hoje tem apenas em torno de cinco séculos. Eu destacaria três livros que argumentam nesta direção. O primeiro deles é "Produção da escola/produção da sociedade: análise sócio-histórica de alguns momentos decisivos da evolução escolar no Ocidente" (Editora Artes Médicas), de André Petitat. Nos três primeiros capítulos, Petitat mostra claramente a invenção dos colégios modernos (protestantes, jesuíticos, etc) e das escolas elementares de caridade, especialmente a partir do século XVI, no contexto da reformas religiosas que fragmentaram o continente europeu.
O segundo livro é "Arqueología de la escuela" (Editora La Piqueta), dos sociólogos espanhóis Julia Varela e Fernando Alvarez-Uría, que procura desnaturalizar a escolarização ocidental a partir dos trabalhos de Michel Foucault, Norbert Elias e Pierre Bourdieu. O primeiro capítulo dessa obra está traduzido para o português sob o título "maquinaria escolar" e argumenta que os artefatos escolares foram criados pelas religiões cristãs em competição, mas foram apropriados pelo "Estado-educador", especialmente a partir do século XIX.
Por fim, o terceiro livro chama-se "A invenção da sala de aula: uma genealogia das formas de ensinar" (Editora Moderna), cujos autores são os historiadores argentinos Inés Dussel e Marcelo Caruso. Trata-se de uma leitura foucaultiana da escola e da sala de aula, cujo nascimento também é identificado - como nos outros dois livros citados acima - nos embates entre protestantes e católicos no início da Idade Moderna. Nesta direção, o título do capítulo dois - "Nasce a sala de aula: o papel da religião como parteira" - é muito sugestivo.
A escola no Ocidente nasceu no início do século XVI, mas ela foi reinventada, particularmente na segunda metade dos oitocentos, quando foi plasmada a escola graduada, que no Brasil se chamou grupo escolar. Mas essa é outra história.