Escrito por Jornal da Educação
Há leituras do passado produzidas em determinadas conjunturas históricas, que são recolocadas e repetidas, tornando-se consensos. Os textos mais instigantes na historiografia são os que problematizam essas interpretações cristalizadas.
Um ótimo exemplo é o livro “Uma tradição esquecida: por que não lemos Anísio Teixeira?”, organizado pelas professoras Zaia Brandão e Ana Waleska Mendonça e publicado pela Editora Forma & Ação. Essa coletânea foi idealizada a partir da releitura da obra “Educação e Desenvolvimento no Brasil” – escrita por João Roberto Moreira e publicada em 1960 –, realizada por um grupo de pesquisadores vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-RIO.
Dos dez capítulos que constituem a obra, o primeiro, intitulado “O esquecimento de um livro”, é o resultado coletivo de reflexões de seis intelectuais sobre a importância da obra “Educação e Desenvolvimento no Brasil”. Trata-se de uma revisita ao livro de João Roberto Moreira, procurando compreender as diferentes apropriações teóricas que esse autor fez para analisar a educação nacional, especialmente aquelas de cunho sociológico. No entanto, o que é mais notável nessa análise é lembrar que a obra “Educação e Desenvolvimento no Brasil” faz parte da atmosfera desenvolvimentista brasileira dos anos 1950 e está estreitamente vinculada às reflexões e às intervenções de Anísio Teixeira. Em particular, entre as iniciativas desse educador, o ensaio dá destaque para a criação e dinamização do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), que teve atuação expressiva na pesquisa educacional brasileira.
Desta forma, quem emerge da releitura dessa “tradição esquecida” é Anísio Teixeira, educador presente no cenário brasileiro desde a década de 1920, um dos principais signatários do “Manifesto do Pioneiros da Educação Nova” (1932), idealizador do CBPE e, enfim, autor de vários obras sobre a educação. Nesta direção, o ensaio “Por que não lemos Anísio Teixeira?” (capítulo 9 da obra em tela), de Zaia Brandão, problematiza a interpretação preconceituosa realizada por boa parte da historiografia e da sociologia da educação brasileira em relação à obra anisiana. Brandão coloca o foco sobre as obras de Carlos Jamil Cury, Luiz Antônio Cunha e Dermeval Saviani, que construíram uma imagem reducionista e conservadora de Anísio Teixeira, contribuindo para “afastar as novas gerações da obra dos educadores que se formaram na tradição liberal”.
Enfim, a coletânea “Uma tradição esquecida: por que não lemos Anísio Teixeira?” nos proporciona uma instigante provocação acerca das reflexões sociológicas sobre a educação nacional na década de 1950, em que se destaca a ação e o pensamento de Anísio Teixeira.