Escrito por Norberto Dallabrida
O regime republicano brasileiro foi construído por uma série de nomes, ritos, instituições, prédios, monumentos, heróis. Após a Revolução Federalista, a capital de Santa Catarina passou a se chamar “Florianópolis” e a praça da matriz foi rebatizada, passando a se chamar “Praça XV de Novembro”.
As instituições escolares deram uma contribuição importante para a produção do novo cidadão desejado pela república brasileira.
As escolas normais, que existiam desde o período imperial, tiveram um papel destacado na formação dos professores das escolas primárias – particularmente dos grupos escolares. Por isso, começando pelo Estado de São Paulo – considerado a locomotiva do Brasil –, as escolas normais foram republicanizadas no território nacional.
Em Santa Catarina, a Escola Normal Catarinense, criada nos primeiros anos do regime republicano e localizada em Florianópolis, foi reformada para se adequar ao padrão republicano vigente no Brasil. Essa questão é abordada no livro “Uma vez normalista sempre normalista: cultura escolar e produção de um habitus pedagógico (Escola Normal Catharinense – 1911/1935)”, de Gladys Mary Ghizoni Teive, que veio a lume no presente ano. Trata-se do resultado de uma tese de doutorado, defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná, que apresenta um texto prazeiroso e consistente.
O livro relê a atuação do professor Orestes de Oliveira Guimarães, profissional da educação formado nos ares renovados de São Paulo, como o mentor da reforma do ensino público catarinense.
Nas primeiras décadas do século XX, ele representou o “bandeirismo paulista” no processo de republicanização das escolas normais brasileiras. Em vários estados da federação, as escolas normais foram reformadas e modernizadas por um docente paulista.
O professor Orestes Guimarães foi contratado, em 1910, pelo então governador Vidal Ramos para modernizar o ensino primário, que implicou na reforma da Escola Normal Catarinense e na implantação dos primeiros grupos escolares nas principais cidades de Santa Catarina.
No entanto, como reformador do ensino primário, a estratégia-chave do professor Orestes Guimarães foi a disseminação do “método intuitivo ou Lições de coisas” na Escola Normal Catarinense.
A modernização do ensino primário dar-se-ia pela substituição do método tradicional, baseado na repetição e na memória, pelo método intituitivo, que preconizava que a origem do conhecimento são os sentidos e, por isso, defendia “o contato direto da mente com a coisa, com o objeto, com a natureza”.
A leitura que a obra em tela faz da incorporação do método intuitivo pelas/os alunas/os da Escola Normal Catarinense, baseia-se no conceito de habitus cunhado pelo sociólogo Pierre Bourdieu.
Nesta direção, ela trabalha com o conceito de “habitus pedagógico” para ler as disposições das professoras formadas na Escola Normal Catarinense sob a batuta do professor Orestes Guimarães. Uma delas, Dona Passinha, concluiu categoricamente que “uma vez normalista, sempre normalista” – afirmação que dá o título à obra.
O livro da pedagoga Gladys Teive sobre a modernização republicana da Escola Normal Catarinense é uma contribuição relevante para a historiografia da educação catarinense e merece ser lido especialmente por profissionais da educação.