Em meados do presente mês, veio a lume o livro “O tempo dos ginásios: ensino secundário em Santa Catarina (final do século XIX-meados do século XX), organizado por Norberto Dallabrida e Celso João Carminati e com o selo da Editora Mercado de Letras.
Trata-se de uma coletânea de dez ensaios sobre colégios de ensino secundário (ginásios) existentes em Santa Catarina, entre a instituição do regime republicano e o fim do Estado Novo.
A grande maioria dos textos desta coletânea focaliza a primeira expansão do ensino secundário no território catarinense, ocorrida na década de 1930, quando foram criados sete novos ginásios, um número significativo, pois, nas primeiras décadas de século XX, havia somente um colégio de ensino secundário oficial e regular.
Durante o Estado Novo (1937-1945), quando foram suprimidas as chamadas escolas étnicas (alemãs e italianas), como parte integrante do projeto de nacionalização autoritária, nenhum ginásio fechou as suas portas.
Deve-se levar em conta que entre o ensino primário e o ensino secundário havia um fosso muito grande, sendo que o último nível de ensino era dirigido para as elites.
No entanto, o ensaio “Labor de resistência: tensões no Instituto Bom Jesus em tempos de nacionalização”, de Luana Bergmann Soares, que integra o livro “O tempo dos ginásios”, revela as tentativas de fechamento do Instituto Bom Jesus, localizado em Joinville, colocadas em marcha por Nereu Ramos – o interventor em Santa Catarina durante o Estado Novo, e a resistência oferecida pela diretora do ginásio, Anna Maria Harger.
Nesta direção, Soares afirma: “O interventor acusava a diretora Anna Harger de aceitar subsídio alemão para a manutenção do colégio e, mais sério e comprometedor, de estimular e disseminar entre as crianças idéias simpáticas ao regime de Hitler.
Certamente, se estivesse ao seu alcance, Nereu Ramos teria fechado as portas do Instituto [...]”. Isso não foi possível, porque o ensino secundário era fiscalizado pelo Ministério da Educação – e não pelo Governo Estadual.
O que é importante sublinhar nesse fato são as táticas implementadas pela diretora do Instituto Bom Jesus para manter o colégio em pleno funcionamento. Ela enviou correspondências a diversas instâncias federais, entre as quais o Ministério da Justiça, o Exército, o Ministério da Educação e a presidência da República.
Outra tática muito inteligente foi a criação de “O Labor”, jornal do Instituto Bom Jesus, no início da década de 1940. Soares lê a fundação do periódico como uma arma política da diretora do ginásio de Joinville, procurando tonificar os seus arsemais de defesa do colégio que chefiava.
Ademais, o primeiro número do jornal “O Labor” foi entregue, por Anna Harger, a Getúlio Vargas, em 9 de março de 1940, quando ele visitava a cidade de Joinville. Esse periódico circulou até 1942 e o Instituto Bom Jesus manteve-se aberto durante o Estado Novo.
A ação resistente de Ana Harger frente à política intervencionista e autoritária de Nereu Ramos foi um fato extraordinário, que merece ser melhor compreendido pela leitura do ensaio de Luana Soares.