Escrito por Norberto Dallabrida
Sílvio Coelho dos Santos é conhecido como renomado professor de antropologia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), instituição em que também ocupou vários cargos administrativos. E também como autor de vários livros sobre a questão indígena, entre os quais "Índios e brancos no sul do Brasil" e "Os índios Xokleng: memória visual".
No entanto, geralmente ele é pouco lembrado como intelectual que ajudou a formular idéias sobre o sistema estadual de ensino. A dissertação de mestrado "Sílvio Coelho dos Santos - um intelectual moderno no Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais (CEPE): pertencimento, missão social e educação para a formação/modernização (1960/1970)", de Marilânges Mól Ribeiro de Melo, orientada pela professora Maria das Dores Daros e defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC, preenche, de forma oportuna e apaixonada, essa lacuna na historiografia da educação catarinense, pois relê as contribuições sobre a educação escolar na trajetória intelectual de Sílvio Coelho dos Santos.
Inicialmente, o trabalho acadêmico de Marilânges contextualiza muito bem a obra educacional de Sílvio Coelho. Ela foi produzida na década de 1960, quando foram colocados em marcha o PLAMEG (Plano de Metas) I e II, respectivamente nos governos Celso Ramos (1961-66) e Ivo Silveira (1966-70), quando foi introduzida a cultura institucional de planejamento global em Santa Catarina. Desta forma, em 1963, foi criado o Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais (CEPE), com o objetivo de realizar investigações sistemáticas sobre o sistema estadual de ensino. Sílvio Coelho dos Santos integrou-se ao CEPE como pesquisador, mas, entre 1966 e 1970, foi o seu diretor, quando coordenou a realização de várias pesquisas educacionais que auxiliaram a formulação do Plano Estadual de Educação 1969-1980 - o primeiro realizado em Santa Catarina.
É no bojo de seu trabalho de coordenador de pesquisas educacionais que Sílvio Coelho dos Santos escreveu dois livros sobre o sistema catarinense de ensino. Trata-se de "Educação e Desenvolvimento em Santa Catarina" (Editora da UFSC, 1968) e "Um esquema para a educação em Santa Catarina" (Editora EDEME, 1970), obras que procuram compreender as deficiências do ensino público catarinense e propõem alternativas para superá-las. A produção destas obras indicam um momento criativo do CEPE, que foi integrado à Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - também instituída pelo PLAMEG I. Não por acaso, a saída do professor Sílvio Coelho da UDESC e a sua vinculação exclusiva à UFSC, em 1970, marca o início da crise das pesquisas educacionais do CEPE, que passa a dar foco às atividades de extensão.
A dissertação de mestrado de Marilânges Mól Ribeiro de Melo analisa em boa hora a produção intelectual de Sílvio Coelho dos Santos sobre o ensino catarinense. Ela se constitui numa leitura muito importante e instigante para ajudar a repensar a escola pública em Santa Catarina nos dias que correm.
*Professor na UDESC e autor de "A fabricação escolar das elites:O Ginásio Catarinensse na Primeira República" (Editora Cidade Cultura)
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