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Jornal da Educação

Entrevista - Jornal da Educação (Outubro/2012)

A docência está em crise

  

     O professor Miguel Arroyo, da Universidade Federal de Minas Gerais, proferiu a palestra de abertura da 3ª edição do Colóquio das Licenciaturas da Univille (CLIC), realizado de 17 a 19 de setembro e que reuniu os estudantes dos cursos de licenciatura e profissionais da área, em discussões acerca da profissão de professor. {mospagebreak}  

 

     Arroyo falou que a docência está em crise e que os professores precisam a reinventar a docência no Brasil e profissionalizar a área da educação, estabelecendo seus limites de atuação e interferência social.

 

     E explanou amplamente os quatro indícios que o levam a afirmar que a docência está crise:

 

     1) Aos professores pagam um dos mais baixos salários entre as profissões com a mesma graduação.

 

     2) Mesmo durante a formação, precisam trabalhar 2, 3, 4 turnos. E, sequer no currículo da formação, há discussão da docência, nem mesmo este aspecto do excesso de trabalho é estudado. Falta portanto, profissionalizar e estabelecer uma identidade própria para a área da educação.

 

     3) Na medida em que os professores estão reconstruindo a profissão, aprendem que a docência é uma construção histórica e que o professor não pode ser um meio professor e não pode se deixar integrar às estatísticas.

 

      4) "É preciso quebrar a imagem romântica do professor. E a de que é o responsável, o cuidador do futuro. Afinal, se o professor está cuidando do futuro, quem está cuidando do presente destes seres que estão sob nossa responsabilidade? Não é a educação que transforma a sociedade, é a sociedade que pode mudar a educação. Mas sem educação não se muda a sociedade", afirmou.

 

Estabelecer os limites

 

     "É preciso estabelecer os limites da área da educação. Porque a educação é uma espécie de lote vago onde todo mundo entra. Os políticos, os prefeitos e até os vereadores se elegem e querem dizer ao professor e à escola como e o que ensinar", disparou

 

      "Isso acontece porque ainda não conseguimos profissionalizar o campo da educação, que não tem identidade própria e é como um grande caldo onde todos colocam a colher", sentenciou.

 

      Miguel sugeriu ainda que os cursos de licenciatura devam ter uma cadeira para que os futuros professores estudem a construção histórica da docência.

 

     "Porque o estudante de licenciatura deve ter lucidez, não só do que será, mas do campo em que atuará, e construir a sua própria identidade profissional".

 

     A des-disciplinarização do currículo foi outro tema tratado pelo professor doutor. Ele alertou, por exemplo, que uma criança de dez anos não tem compreensão para entender a vida em partes isoladas.

 

      O palestrante garantiu que "nunca antes no Brasil tivemos profissionais da educação tão bem formados. Temos mais qualidade de formação do que as qualidades físicas daquelas escolas em que eles irão atuar".

 

     E continuou, "sabemos que a educação acontece em sala de aula, então, "a sorte da docência é a mesma sorte das crianças e adolescentes que chegam nessas escolas sem estrutura adequada para a aprendizagem. E está é mais uma razão para a docência e o ensino estarem em crise", garantiu Arroyo.

 
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