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Jornal da Educação

Entrevista - Jornal da Educação (Setembro/2011)

Planejamento e dedicação foram essenciais para chegar ao Educador Nota 10

     Projetos de duas professoras da região de Joinville estão entre as 11 finalistas do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita. É difícil chegar nessa posição. 

 

     As professoras de matemática de Joinville Célia Maria Ribeiro Batista e professora das séries iniciais de Itapoá, Cátia Eliane Nicolachik conseguiram o mérito.

 

     Este ano foram aproximadamente três mil inscrições. O Educador do Ano será conhecido no dia 17 de outubro, em São Paulo, durante a solenidade de reconhecimento e premiação dos educadores vencedores. 

 

     O ganhador terá direito a um curso de pós-graduação em instituição de sua escolha.

 

    Planejamento, dedicação e muito trabalho aliado à vontade de ver os alunos dominando os conteúdos e a coragem de registrar o projeto e se inscrever, levaram as duas professores de escolas públicas ao topo de um dos principais prêmios para educadores do país.   

A geometria do espaço visual

 

     O projeto, “Introdução ao Estudo de Medidas de Superfície”, da professora Célia, foi desenvolvido a partir da percepção de que os alunos, de um modo geral, têm dificuldade em compreender e visualizar as medidas de superfície. 

 

     Na unidade em que deveriam estudar centímetros, metros ou quilômetros quadrados, especialmente ao aprender os cálculos em sala de aula, a professora Célia aplicou o projeto para auxiliar os alunos dos 6os anos, da Escola Municipal Presidente Castello Branco, a construir a imagem mental da superfície de 1M², a partir de diferentes formas geométricas. 

 

      “Elaborei um diagnóstico com os alunos de 6º ao 9º ano para detectar se nossos alunos também apresentavam dificuldade na compreensão e visualização das medidas de superfícies”, explicou a professora.

 

     Por meio do dignótico, Célia constatou que seus alunos conheciam a diferença de conceitos entre perímetro e área e sabiam como calcular, mas também apresentaram dificuldades em representar, geometricamente, a superfície correspondente a 1M² de área. E também em fazer estimativas de medidas do espaço físico real.

 

     Valendo-se de conhecimentos de um curso de formação realizado há cerca de 10 anos, Célia elaborou uma sequência didática denominada “Introdução ao estudo de medidas de superfície”.

 

O estudante é quem deveria arquitetar em sua mente os conceitos de superfície e área de forma mais significativa do que pelo simples cálculo. 

 

Noções prévias à construção

 

     Antes de iniciar a construção dos espaços, os alunos tiveram noções prévias de escalas, medidas de comprimento e superfícies. 

 

     “Como já haviam estudado polígonos e as principais características dos triângulos e quadriláteros notáveis e também medidas de comprimento, sugeri que, em grupos, construíssem com jornal um quadrado com um metro de lado”, explica Célia.

 

     Em torno dos quadrados construídos, os alunos faziam sugestões e reflexões sobre como calcular a sua área. E daqueles quadrados iniciais, foram criadas muitas outras formas. 

 

     “Construímos os conceitos das aulas visualizando os quadrados, retângulos, triângulos, polígonos convexos no chão. Os alunos participavam da atividade, desenvolvendo suas próprias hipóteses de cálculo e realizando a decomposição e composição do M² de diferentes formas”, acrescenta.

 

     Aproveitando a imagem mental da superfície de 1M2, a professora lançou desafios para as turmas. Entre eles, quantas daquelas superfícies de 1M2 caberiam na sala. 

 

   

     “Como havia muita divergência, pedi que discutissem entre sí e que apresentassem uma forma de estimar quantos M² tem a sala”, declara.

 

     Diversas formas de obter os resultados foram sendo apresentadas pelos alunos. Colocar o m2 no chão imaginando quantos caberiam. 

 

     Colocar o quadrado nas paredes do comprimento e largura, imaginando quantos quadrados caberiam em uma parede e em outra (comprimento e largura) para em seguida multiplicar, imaginando o número de fileiras com a quantidade de quadrados em cada fileira.

 

Cada um no seu quadrado!

 

      Ainda com as formas geométricas espalhadas pelo chão, os alunos foram se posicionando sobre elas, para verificarem quantas pessoas cabem em cada uma das peças. 

 

      “Utilizamos a estimativa realizada no momento anterior, de que a sala tem aproximadamente 48m² e calculamos quantas pessoas (alunos) cabem na sala de aula, bem juntinhos e de forma confortável”, explicou Célia. 

      Neste momento foram confrontadas as estimativas com as dimensões reais da sala, analisando as medidas obtidas com os resultados anteriores.

 

      “A transformação das unidades era outro problema para os alunos. E, com o desenvolvimento da sequência, conseguiram entender como isso funcionava. Fiquei muito contente”, registra. 

 

      Essa atividade abriu as discussões de como é calculado o número de pessoas nos eventos, shows e festas. 

 

     Já na quadra de voleibol, foi medido o perímetro e a quantidade de pessoas que caberiam no local.

 

Desafio dos tacos

 

     “Pedi para que pensassem em um procedimento para calcular quantos tacos tem o chão da sala de aula”, Em grupos, os alunos discutiram as possibilidades de realizar a tarefa e em seguida, socializaram as sugestões com toda a turma, apresentando procedimentos utilizados.

 

      Ao final de cada aula, o aluno registrou aquelas etapas da vivência que mais lhe chamou atenção e aquilo que ele aprendeu com a atividade. 

     Como forma de avaliar a aprendizagem, a professora aplicou algumas questões do diagnóstico inicial novamente, sobre os conceitos de superfície, área e m², cálculo de área e desenvolvimento da visão (noção) de espaço.

 

     “Observei uma ativa participação dos alunos nas atividades. Desde o início eles demonstraram vontade de aprender, fizeram os relatórios que solicitei, trouxeram os materiais e compartilharam seus conhecimentos e suas dúvidas nas aulas”, registra animada.

 

     As formas geométricas ficaram expostas na sala de aula para as atividades seguintes. 

 

     “O objetivo de deixar essas formas expostas por algum tempo é de que o aluno tenha oportunidade de fixar bem a imagem mental do tamanho da superfície das diferentes formas geométricas com 1m² de área”, argumenta Célia.

 

      A atividade foi realizada com os 6os anos, mas a professora pretende trabalhar o tema novamente com os 8os anos. “No diagnóstico observei que os alunos dos 8os também não tinham essa noção de medidas de superfície. Pretendo retornar ao tema de uma forma diferenciada, mas sempre trabalhando a questão visualmente”, finaliza.

 

Criação literária de um Conto de Fadas

 

     A história de Chapeuzinho Vermelho faz parte da infância de muitas crianças. E para os alunos da professora Catia Eliane Nicolachik, da Escola Municipal Ayrton Senna, a Chapeuzinho Vermelho vai ficar na memória como a protagonista do livro de histórias criado por eles.

 

     O projeto “Conto de Fadas” foi desenvolvido de agosto a dezembro de 2010, com os alunos do 1º ano do ensino fundamental, períodos matutino e vespertino, com o intuito de aperfeiçoar os procedimentos de escrita e revisão de texto dos alunos, proporcionando contato com bons textos literários e permitindo que as crianças evoluam em suas hipóteses de escrita.

 

     A ideia de envolver os pequenos leitores em uma criação literária surgiu a partir de um curso de formação desenvolvido pela Prefeitura de Itapoá. 

 

     “Nós temos formações o tempo todo. Foi um desejo dos professores esse aperfeiçoamento na nossa área. Mantemos um projeto de trabalho de contos e textos com as crianças e para aquele momento decidi trabalhar com as histórias de Chapeuzinho Vermelho”, argumenta. 

 

As versões da história

 

     A primeira atividade das crianças foi registrar em frases e textos o que já conheciam sobre os contos. 

 

     Os alunos ainda não alfabetizados foram acompanhados pela professora individualmente. A história de Charles Perrault e dos Irmãos Grimm, era a mais conhecida.

 

     Em seguida, várias versões do conto foram apresentadas. A versão “Fita verde no cabelo”, de Guimarães Rosa; a paródia de Chico Buarque, “Chapeuzinho Amarelo” e o livro “Chapeuzinhos Coloridos”, de Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta foram algumas das versões que as crianças conheceram.

 

     “Para cada tipo de texto, focávamos um aspecto diferente da história. O lobo, por exemplo, era um personagem diferente em cada história. Na dos Irmãos Grimm, uma grande fera. Na versão do Torero e Pimenta, em cada pequeno conto, o lobo representa um personagem diferente: um animal, o vento”, explica a professora.

 

      As crianças escolheram a versão preferida. E em cada leitura, os alunos trabalharam um aspecto diferente do conto. 

 

      Além das atividades de alfabetização, previstas no planejamento do bimestre, foram desenvolvidas uma galeria de personagens favoritos utilizando a técnica da modelagem com massinha, quadro comparativo das versões para analisar e contextualizar as histórias.

 

     Quando a professora fez a contação do livro Chapeuzinhos coloridos, os alunos perceberam que cada chapeuzinho apresentava suas características próprias. Decidiram então recriar os chapéus com materiais reciclados e tecidos. Depois, fizeram um desfile de suas criações em sala. 

 

      Numa conversa,  decidiram qual a história predileta. E, em duplas, registraram os momentos favoritos. 

 

      “Agrupei em duplas com saberes diferentes, para que uma aprendesse com a outra”, relata Cátia.

 

     As histórias coletivas, criadas com a própria versão do conto, foram registradas no quadro e transformadas em livros, ilustrados pelos alunos e lançado na Tarde de Autógrafos. 

 

Iniciando a produção do livro

 

     Durante as aulas, a professora também ensinou aos pequenos noções da estrutura de um livro. Os autores aprenderam sobre os tipos de ilustração, partes integrantes do livro, dedicatória e paginação. Na etapa de montagem do livro, a professora auxiliou como orientadora tanto na composição das falas dos personagens, quanto na escolha das ilustrações. 

 

     Foram aproximadamente cinco meses de trabalho, da concepção da ideia até a impressão da história em papel.

 

       “Quando os livros ficaram prontos, levei para a sala de aula e falei, ‘eu trouxe aqui mais uma versão da história da Chapeuzinho Vermelho. 

 

     Esses autores aqui não são ainda muito conhecidos, mas podem fazer sucesso’. E comecei a ler o conto para eles. Quando perceberam que era o livro deles já impresso, ficaram radiantes, muito felizes ao visualizar a  própria obra”, registra Cátia.

 

Tarde de autógrafos

 

     A apresentação do livro aos pais e à comunidade escolar, foi na tarde de autógrafos, com direito à banners e cartões com os resumos das histórias, entregues aos convidados.

 

      Durante o evento, os próprios “artistas” apresentaram o projeto, fizeram discursos e deram autógrafos.

 

      “Tivemos momentos difíceis, em que eles não entendiam porque precisaram revisar tantas vezes o texto, foi preciso intervir muitas vezes. O processo foi longo, mas o resultado final compensou”, garante a professora.

 

      Em 2010, a turma tirou nota cinco na Provinha Brasil, nível mais alto da avaliação. “Significa que eles têm um bom nível de leitura, escrita e capacidade de pesquisar informações”, declara a professora com orgulho.

 

      Este ano a professora Cátia deu continuidade ao trabalho com as mesmas crianças, agora no 2º ano.  

 

  • Histórias diferentes 

 

Chapeuzinho preto

 

 

     A turma da manhã se baseou nas histórias do livro “Chapeuzinhos Coloridos”, de Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta focando no momento em que a chapeuzinho se olha no espelho e percebe que já está crescida. 

 

     Na maioria das histórias das duplas, esse momento se revela com as frases “e esse nariz tão grande”, “é porque agora sou dona do meu próprio nariz”.

 

     Outro momento marcante está no final do conto quando percebem que o lobo, na realidade é o tempo. 

 

     Na história, escrevem que as jabuticabas são os bons momentos da vida e que devemos aproveitar devagar cada um deles.

 

      Além de incluir um pouco de humor no momento em que o lobo encontra a Chapeuzinho: “- Quanto é 4 x 8?! Quer dizer... O que você tem nessa cesta?”.

 

Uma história atrapalhada

 

     A turma da tarde escolheu criar uma versão para “Uma história atrapalhada”, de Gianni Rodari. O conto é narrado por alguém que só se revela no final, confundindo todos os detalhes da história do começo ao fim.

 

     A professora expõe que a dificuldade das crianças foi em apropriar-se da característica do discurso direto, pois ainda não dominavam o sistema alfabético. Além do que essa característica não predominava nos contos que tinham ouvido até então.

 

      “Eles tinham todo o enredo da história, porém, sem o recurso de linguagem apropriado, assim, os acontecimentos se misturavam. Eu era a escriba e não queria interferir na história, mas precisava orientá-los sobre estes aspectos que desconheciam”, explica. O ponto interessante da história ficou justamente com a confusão proposital, na qual os alunos incluíram personagens que não apareciam no texto original. 

 

Planejamento e dedicação

 

     “Eu pesquisei nos trabalhos anteriores do Prêmio Educador Nota 10 para ter noção de como escrever esse projeto. Assisti aos vídeos da Fundação Victor Civita com dicas, pesquisei muito, analisei todos os pontos de cada etapa do meu planejamento”, declara a professora Célia.

 

     “É um processo muito longo e cansativo. Para encontrar diferentes versões da história Chapeuzinho Vermelho, precisei pesquisar muito, mas o resultado final valeu a pena, pois consigo ver a evolução das crianças”, explica a professora Cátia.

 

     É na fase do planejamento que deve-se definir o que se quer que o aluno aprenda, para saber qual caminho será traçado para alcançar esses objetivos. 

 

     No caso da professora Cátia, ela revela que teve de entender como é o processo de escrita da criança, para entender o que eles estavam escrevendo.

 

      É preciso também estar envolvido com o projeto. “Você deve se encantar pelo assunto. O professor precisa estar entusiasmado para passar essa empolgação para o aluno. Na hora de contar uma história, nem era a história em si, mas sim a maneira com que eu transmitia para as crianças, que fazia eles se apaixonarem também”, defende Cátia. 

 

     O planejamento bem elaborado, com pesquisa e fundamentação, demanda tempo e acesso a boas referências de pesquisa.

 

     O professor precisa também de uma boa formação continuada, não apenas aquela para fechar as horas obrigatórias. Uma formação que aponte novas tendências e tecnologias para trabalho em sala de aula, enfatizam as professoras. 

 
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