Escrito por Inez Maria de Fatima Robert
Muitas são as inquietações e dúvidas sobre como a Reforma Trabalhista irá impactar nas relações profissionais, havendo os que indicam que as mudanças serão, mais uma vez, benéficas apenas para o empresariado.
Todavia, convido-os a se perguntarem: as regras antigas nos permitiram, enquanto trabalhadores brasileiros, a atingirmos nível de maturidade pleno enquanto ser social? Foi possível desenvolvermos competências imprescindíveis para o alcance de sucesso garantido no mercado de trabalho? O trabalhador brasileiro desenvolveu, por exemplo, negociação, planejamento, reconhecimento de fato por sua participação nos resultados, independência, dentre outras competências sobre as quais hoje é cobrado, independente da Reforma? Ele se sente feliz?
Por muito tempo fomos regidos por procedimentos nascidos em 1943, quando da constituição da CLT e, embora tenham ocorrido evoluções que procuraram preservar direitos e deveres tanto para o empresariado quanto para os empregados, pouco se permitiu que sentássemos para discutir as melhores alternativas para as relações de trabalho. Isso fez com que nós, os trabalhadores, acostumássemo-nos à máxima de que a “vontade do patrão” deveria prevalecer, mesmo que esse propiciasse abertura e incentivasse participação (afinal, nem todos “os patrões” são iguais e, pensar assim é não reconhecer que existem muitas práticas organizacionais de fato participativas). Ao longo do tempo, foram fixados sérios paradigmas que levaram a classe trabalhadora brasileira a uma atitude subserviente e disciplinada pelo que era aceito pela maioria, mesmo que a decisão custasse muita insatisfação.
Os Sindicatos, na tentativa de mudar cenários, fizeram sua parte, mas também contribuíram para que não buscássemos informações sobre direitos, possibilidades e aberturas às relações de trabalho, pois, com nossa anuência, eles falaram por nós. Com a Reforma Trabalhista, o cenário muda e, sem desmerecimento qualquer à figura dos Sindicatos que irão, com certeza, buscar uma nova identidade. O contexto de trabalho que se apresenta atualmente nos exigirá priorizar diálogos diretos que contribuirão para que haja crescimento em direção às alternativas, mudanças e acordos personalizados, que sejam bons para ambos: trabalhadores, falando por si, e o empresariado.
Neste momento, acredito que alguns de vocês que me leem estão se perguntando: estamos preparados para esse diálogo? Como o trabalhador brasileiro vai defender seus direitos e discutir alternativas para a mediação das relações profissionais?
Talvez, ainda não estejamos prontos para enfrentar tais desafios, mas o aprendizado só se consolida com a prática e, portanto, a abertura propiciada pela Reforma Trabalhista nos levará, em médio prazo, ao estabelecimento de uma relação profissional mais maduras mudanças contribuirão para que se estabeleça uma relação profissional que valorize a individualidade de cada trabalhador, o qual, até agora, pode ter se deixado levar pelos modelos padronizados que sempre definiram quais benefícios, acordos e práticas seriam melhores para atender suas necessidades. Hora de identificar o que é bom e atende os profissionais, enquanto pequenos ou grandes grupos, visto que a matriz de necessidades e expectativas de cada trabalhador não é obrigatoriamente igual.
Esse investimento vai nos exigir a busca de mais informações e o desenvolvimento de competências para consolidarmos esse processo de crescimento; já que a abertura propiciada pela Reforma Trabalhista exigirá empenho para se conhecer mais sobre as leis, sobre a importância do diálogo e, acredito que possibilitará o resgate do apoio mútuo, enquanto pertencentes a uma mesma classe, a trabalhadora, por ser natural ao ser humano, quando em vantagem, oferecer informação, ajuda, visão, apoio e alternativas que contribuam para além de seu crescimento.
Serão os jovens os grandes desbravadores deste momento, os quais, precisarão de apoio e orientação para que se resgate o compromisso com o trabalho como caminho para a conquista de sonhos e realizações, independente se como empreendedores autônomos ou participantes do quadro funcional de uma empresa.
Portanto, apostar positivamente neste novo cenário trabalhista que se apresenta, potencializa um grande desafio à mudança e efetiva maturação de nosso papel enquanto cidadãos ativos no mercado de trabalho. Vamos ‘dar voz’ às necessidades e buscar novos caminhos para a construção de relações profissionais que tragam satisfação, reconhecimento e felicidade aos cidadãos.
Este desafio exigirá também crescimento por parte das empresas, pois em um processo de negociação existem duas e não apenas uma parte interessada naquilo que é posto à análise. Da mesma forma que as pessoas terão de buscar competências para o diálogo participativo, as empresas também precisarão fazê-lo, além de abrir-se para a adoção de novas práticas flexíveis e capazes de fixar o reconhecimento de que não lidam com uma massa produtiva indispensável, mas pessoas pensantes e capazes de identificar e sugerir o que pode ser o mais adequado tanto para o próprio crescimento, assim como para o das empresas.
O desafio não será fácil, portanto, se a Reforma Trabalhista veio para ficar, precisa-se entender sem preconceito, o que está disposto, para então assumir a importante tarefa de empreender esforços, visando aumentar conhecimentos, unir forças e partir para uma negociação sustentada e objetiva capaz de fixar uma nova narrativa à evolução do papel do profissional brasileiro.
Inez Maria de Fatima Robert, formada em Psicologia com Mestrado em Administração – Ênfase em Gestão Estratégica, com 45 anos de vivência na área de Gestão de Pessoas em empresas de São Paulo e Santa Catarina; Consultora da Robert Consultoria, professora e orientadora em cursos de formação na Universidade da Região de Joinville e Faculdade Guilherme Guimbala; e Pós Graduação no Centro Universitário - Católica de Santa Catarina e na Univille.