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Jornal da Educação

De onde vem (Edição Dezembro/2021)

Estatuas Gregas e a Branquitude

Escrito por Marcelo Junior Dainesi Viana

O mito das estátuas gregas

Você provavelmente já tem alguma familiaridade com as estátuas gregas. Talvez uma das  coisas que mais chamem a atenção nelas seja justamente a sua cor, ou falta dela. É comum imaginarmos as estátuas gregas e romanas com a cor branca, como se tivessem sido feitas assim, mas a história não é bem desse jeito. Estudos recentes nos mostram que na verdade estas estátuas eram pintadas com cores extremamente vivas. Mas então por que nós temos essa imagem delas?

Para responder esta pergunta, temos que voltar alguns anos e descobrir como estas estátuas eram feitas. A brancura característica dessas estátuas provém do mármore, que era um dos principais materiais usados na sua produção. Contudo, havia um material mais popular: o bronze. A escolha do material base era feita principalmente levando em consideração o local na qual a obra seria exibida. O bronze entra como uma boa escolha devido a sua maior durabilidade, o que ajudava em situações nas quais a estátua fazia parte de estruturas maiores, consequentemente precisando ser mais resistentes. Mas o bronze ser o principal material para a produção nos deixa outra dúvida: por que então temos vemos mais estátuas de mármore do que de bronze hoje em dia? A resposta está justamente no bronze, que além da durabilidade também eram um material facilmente reutilizável, o que levou ao reaproveitamento de muitas das estátuas.

Além disso, temos outro elemento na questão: os romanos, que ganharam gosto pela arte grega e decidiram se inspirar para fazer suas próprias obras, incluindo as estátuas, que muitas vezes eram cópias feitas de mármore. Quanto ao hábito em si de pintar as estátuas, é fruto da troca cultural dos gregos com outros povos, notadamente os egípcios.

Agora sabemos como eram feitas as estátuas e podemos ter alguma noção do porquê não as concebemos com a cor branca, já que a tinta dificilmente duraria dois milênios. Só que ela durou, o que é visível a olho nu em alguns casos, mas em outros é necessário uma ajuda da área da química para captar resquícios da tinta, o que permite uma reconstrução, geralmente no formato digital.

Certo, então se até existem casos em que é possível saber que as estátuas eram pintadas, então por que a ideia das esculturas extremamente brancas prevaleceu? Aqui nós devemos avançar um pouco no tempo, saindo da Grécia antiga e indo até o período do renascimento na Europa.

O renascimento foi marcado  pela crítica a igreja católica e exaltação da antiguidade greco-romana. A ideia das estátuas brancas serviu muito bem aos renascentistas, uma vez que era um contraste à arte religiosa, marcada pelas cores vivas e abundantes. Avançando ainda mais no tempo, por volta do século XIX, ainda na Europa, começa a circular a concepção de que as cores vivas eram característica de uma arte pouca séria, folclórica e degenerada. Isto influenciou inclusive a estética nazista, que considerava a inexistência de cor como um símbolo de sofisticação e superioridade.

Assim, o cinema, literatura e diversas outras formas de arte reproduziram esta imagem das estátuas brancas, criando um senso estético que ficou impregnado em nosso imaginário até os dias atuais. Felizmente, as reconstruções atuais nos permitem ter acesso á uma visão diferente da arte grega e romana, desconstruindo preconceitos tão enraizados nas nossas mentes por séculos e abrindo espaço para novas formas de arte, e portanto, de ser e existir.

 

Marcelo Junior Dainesi Viana - Lattes: http://lattes.cnpq.br/3076453211316660

 
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