Escrito por Leandro Villela de Azevedo
Manuel de Borba Gato foi um bandeirante paulista que viveu no século XVII (e décadas iniciais do XVIII). Não se sabe muito sobre sua infância ou adolescência, sabe-se que ele desse cedo tornou-se bandeirante, portanto tendo participado de atividades comuns dos bandeirantes de sua época, como o apresamento e venda de indígenas (o que justifica os críticos atuais que lhe atribuem a alcunha de assassino de índios), mas de certa forma ele só começa a “entrar para a história” ao se casar com a filha de Fernão Dias (famoso bandeirante de sua época). Por conta do parentesco Boba Gato começa a ter certa influência sobre os demais bandeirantes, inclusive liderando expedições para tentar conquistas a “Serra do Sabarabuçu” (um local imaginário como “eldorado” ou “fonte da juventude”) expedições essas que claramente não atingiram seus objetivos.
Ainda assim, até aquele ponto, sua história não difere muito das dos demais bandeirantes, isso mudaria a partir de 1682. Nesta ocasião o rei português D. Pedro II (não confundir com o D. Pedro II que foi imperador do Brasil) havia enviado ao Brasil um fidalgo de sua confiança chamado Rodrigo de Castelo Branco, com o objetivo de ser o administrador geral das minas no Brasil. (A coroa portuguesa planejava uma ampla prospecção na colônia para encontrar ouro e pedras preciosas). Entretanto, Borba Gato, teve desentendimentos com Castelo Branco (algumas fontes dizem de um desentendimento pessoal, sem ao menos saber que ele era o administrador real, outras fontes colocam como uma disputa política para impedir que as minerações secretas dos bandeirantes fossem descobertas). O fato é que Borba Gato faz uma emboscada e mata então o nobre português, enviado do rei. Ao descobrir o tamanho da posição e poder que Castelo Branco tinha e ter o exército Português ao seu encalço Boba Gato foge para a região do Rio Doce. Ficando foragido por mais de 10 anos.
Após esse tempo enfim ele é capturado e levado para ser julgado pelo novo governador enviado pelo rei, Artur de Sá e Menezes. O assassinato de um nobre, ainda mais um alto funcionário da corte portuguesa, não terminaria que não fosse em sua morte. Entretanto Borba Gato prometia ter algo de altíssimo valor em troca do seu perdão. A localização das minas de ouros e pedras preciosas, em quantidade muito maiores do que as que a própria coroa portuguesa acreditava ser possível existir nessa região (de fato foram as maiores jazidas de ouro e pedras preciosas conhecidas no mundo até aquela época, que culminou na colonização de Minas Gerais por parte da coroa portuguesa.
Ou seja, ele, que já era desafeto dos indígenas e da igreja (que defendia a catequização e não a escravização dos indígenas) e havia se tornado desafeto dos nobres que assassinato feito anteriormente, agora se tornava também desafeto dos bandeirantes, visto como uma espécie de traidor, visto que com a tomada por parte de Portugal da colonização, impostos, controles e até desapropriações vieram a ocorrer.
Mas com tantos desafetos como ele se torna “famoso” ao ponto de ter estátuas espalhadas pelo Brasil, como destaque principal a que foi queimada em São Paulo? A sua atitude de repassar à coroa onde estavam as minas acabou lhe gerando fama para o rei de Portugal, que chegará a nomeá-lo como tenente do exército, e lhe permitirá posses sobre algumas das minas desapropriadas. Essa disputa pelas minas gerará uma guerra interna na região chamada de Guerra dos Emboabas, que fará com que parte da família de Borba Gato, para sua proteção, volte para Portugal. Como sabemos, entretanto, a coroa Portuguesa acabará vencendo e dominando de forma mais intensa a região, colocando o bandeirante como uma figura importante desse processo (embora sem muito destaque)
E a estátua? Ela começou a ser construída em 1957, sendo inaugurada apenas em 1963, foi um projeto pessoal do escultor Júlio Guerra e foi construída no que era, naquele momento, seu próprio quintal, tendo sido posteriormente integrado ao inventário de obras de artes públicas de São Paulo. Com a inauguração da Estação Borba Gato da linha lilás do metrô em SP em 2017 ela começa a ganhar mais destaque, e também mais críticas.