Escrito por Leandro Villela de Azevedo
Com certeza o estudo remoto por conta da quarentena deixou muitos dos professores, alunos e pais meio perdidos. Era muita novidade para assimilar em pouco tempo. Um esforço para se estabelecer uma infraestrutura que sustentasse um fluxo tão grande de dados desde a escola até as casas e aparelhos de cada aluno. Extremamente político, criado às pessoas no meio de uma emergência.
Alguns enxergam como o próximo passo natural para evolução da escola, outros não vêm a hora de poderem voltar as salas de aula com carteiras enfileiradas e uma boa lousa e giz. Afinal, a escola sempre foi desta forma, não é? Por que teria que mudar?
Então, eis que vem o historiador no seu papel social e diz, não, a escola nem de longe foi sempre assim. Esse modelo de escola que nos parece eterno por existir desde a época de nossos bisavôs surgiu no século XIX, e nem mesmo é padrão em todo o mundo na atualidade.
A educação em massa é criação da França napoleônica e servia para formar soldados, prontos a obedecer, andar em fileiras, terem treinamento físico e conhecimentos básicos de sobrevivência em guerra, além de um imenso amor à pátria prontos a matar ou morrer por ela. Passando por isso a Prússia (que depois vira Alemanha) deu um passo a mais no modelo para o adaptar à revolução industrial que chegava forte a este reino. O modelo anterior, que se mantinha desde a idade média, era baseado em atividades bem mais práticas, especialmente se comparados aos atuais.
Na mesopotâmia antiga um aluno antes de começar a aprender a escrever iria aprender a fazer argila, e então tabuinhas de argila (que era o material no qual ele escrevia) podemos dizer que ele produzia o seu próprio material escolar. Além disso conhecer cerâmica em uma sociedade onde qualquer tudo era feito de argila parecia algo que fazia todo o sentido. Nas escolas jesuítas, especialmente na américa, aprendia-se artesanato desde cedo, mas não somente isso, também se aprendia através do teatro. Na verdade, uma porcentagem bem significativa do aprendizado era feita por meios de produção cultural como peças, músicas e afins (será que isso seria equivalente a que produções culturais de hoje, vídeos no Youtube ou programação de jogos?)
Na Austrália, que é um país extremamente vasto territorialmente, mas com muito menos população (tendo um tamanho quase igual ao do Brasil sua população é praticamente metade da do Estado de São Paulo) juntar muitas pessoas em um mesmo lugar para criar uma escola podia ser um grande desafio. Isso nas grandes cidades certamente não era problema, mas a maior parte do país é formado de zona rural, e devido ao alto nível de aridez do solo elas são muito afastadas entre si.
Por outro lado, a ideia de direitos para todos forçou esse país muito antes de qualquer pessoa ter um PC em casa (quem dirá ter um celular) a ter ensino remoto. Na década de 70 a educação via rádio já tomava uma boa porcentagem do país territorialmente falando (não rádio desses de rádio, mas dos que chamamos de amadores, que você pode transmitir voz além de receber voz) Isso significa que lá o ensino remoto foi um sucesso, sem ter quase nenhuma das ferramentas que nós temos hoje, e foi justamente nesse modelo que o pais deu um salto de crescimento econômico entre as décadas de 70 e 2010.
Sendo bem sincero, como opinião do autor desse artigo, novos modelos educacionais são sempre bem vindos e necessários, o problema não são os modelos, mas são quando a prioridade do governo é ter aparência de um ensino sem o ensino ocorrer de forma real? Isso no Brasil não é novidade, de movimentos de alfabetização que apenas ensinavam as pessoas a escreverem seus próprios nomes a cursos superiores via EAD que na prática são apenas um vídeo gravado anos atrás com provas previamente programadas, um curso sem professores. Afinal algo nunca mudou entre nenhum desses modelos citados, a essência da educação independente de seus objetivos e modelos sempre foi a relação entre professor e aluno.