Logo da Universidade do Estado de Santa Catarina

Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

De onde vem (Edição Agosto/2020)

Como vencer uma guerra sem lutar?

Escrito por Leandro Villela de Azevedo

Continuamos em nosso país com a disputa entre defender a economia e defender a saúde, cada qual com os seus argumentos. Mas um ocorrido no final de maio, o fechamento dos aeroportos americanos para vôos brasileiros faz surgir uma nova dúvida. Até que ponto não seria pior para a economia correr o risco de ficar isolado comercialmente por não ter conseguido lidar de forma adequada com a pandemia. E como historiador posso dizer, todos os grandes impérios que se deixaram isolar economicamente não estão aqui mais para contar a história... então eu conto.

Em 1453 o mundo viu um império surgir. Os otomanos, que até então eram uma espécie de pequeno reino na fronteira entre o mundo islâmico e o Império Bizantino, conseguiram fazer o que se acreditavam ser impossível capturaram Constantinopla. Derrubam a “Roma do Oriente” a fortaleza que tinha conseguido se defender por mais de um milênio a sucessivas tentativas de invasão.

E como Mehmed II dos Otomanos fez isso? Isolou Constantinopla economicamente. Claro, a técnica de se isolar uma cidade com o exército e não deixar ninguém sair ou entrar já era antiga, os Romanos tinham usado para capturar Cartago nas Guerras Púnicas, era usada em larga escala em toda a Idade Média. Mas com Constantinopla era diferente.

Primeiramente ela estava na encosta da divisão entre a Europa e a Ásia e ainda na ligação entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo, Isso fazia com que fosse quase possível a isolar, seria preciso ter tropas em dois continentes e em dois mares. ... Mas Mehmed II soube a forma certa. Além de invadir a Europa para cercar Constantinopla pelo outro continente, teve a brilhante ideia de cortar qualquer comércio com cidades europeias (necessitadas das especiarias do oriente) enquanto não quebrassem suas alianças com o imperador em Constantinopla.

Orban, o grande engenheiro que estava desenvolvendo os maiores e mais poderosos canhões do mundo na época para Constantinopla se defender, de repente ia ficar sem a compensação financeira por seus anos de esforços.

Fez o que? Vendeu para o inimigo, Mehmed II dos Otomanos, que usou a tecnologia que deveria defender Constantinopla, para derrubar suas muralhas e a invadir.

Mas pelo jeito os Otomanos não aprenderam a lição. Fizeram um império amplo e poderoso, se estendendo do sul da Hungria na Europa até quase a índia, ocupando todo o norte da África e Oriente Médio. Eram a maior potência militar e econômica de seu tempo.

Ocorre que logo os países europeus precisaram se adaptar, começaram as grandes navegações, a Europa deixa de usar a rota da seda (por dentro do império Otomano) e passa a usar a rota naval, Oriente e ocidente estabelecem amplas trocas comerciais sem precisar passar pelo Império Otomano, que ao invés de tentar negociar, tenta a força tomar os polos do comércio para voltar a controla-lo.

Aos poucos, isolado economicamente, vai ficando para trás em tecnologia e no século XIX começa a perder territórios para potências europeias na época do neocolonialismo.

O Golpe mortal veio quando se uniram ao Império Alemão e ao Império Austro Húngaro na primeira guerra mundial, para tentarem de novo assumirem espaço de destaque mundial e acabarem com sua situação de isolamento .... como sabemos os alemães (e Otomanos) perderam a guerra e o império foi cortado em partes independentes (das quais apenas os turcos se dizem herdeiros dos Otomanos).

Quando pensar novamente que a escolha está entre apoiar a economia ou apoiar a saúde lembre, se a saúde chegar a tal ponto que formos isolados por sermos foco da pandemia, a economia vai ficar bem pior do que com um isolamento bem feito e coordenado.

 
ENDEREÇO
Av. Madre Benvenuta, 2007 - Itacorubi - Florianópolis - SC
CEP: 88.035-001
CONTATO
Telefone:
E-mail: comunicacao.cead@udesc.br
Horário de atendimento:  13h às 19h
          ©2016-UDESC