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Jornal da Educação

De onde vem (Edição Maio/2020)

A Hora é Agora

Escrito por Leandro Villela de Azevedo

Vivemos em uma época difícil de se tratar de outro tema que não o COVID-19. Sinceramente pensei em escrever sobre algo nada relacionado e assim trazer alguns minutos de distração aos olhos de quem lesse, mas ao invés disso prefiro trazer esperança cumprindo meu papel social de historiador.

Embora eu, assim como todos os demais historiadores, não possamos realmente prever o que está por vir, posso comparar a situação atual com as demais e trazer boas novas. Quase sempre após grandes pandemias a sociedade se reinventa para melhor:

Recentemente o historiador Joshua Mark, criado da Ancient.eu (Enciclopédia de História Antiga) publicou um trabalho onde mostrava uma relação entre as principais epidemias e as transformações históricas, eu como medievalista completo a lista até os dias atuais

Atenas – em 431AC uma terrível epidemia assolou Atenas no meio da guerra do Peloponeso (Atenas contra Esparta pelo poder hegemônico na Grécia) – A epidemia foi catastrófica, sintomas complexos que não se remetem a nenhuma doença moderna (embora alguns médicos tentem assemelhar em parte a doenças atuais) fizeram a cidade ter grandes perdas e inclusive posteriormente ser derrotada por sua rival Esparta.

Mas mais do que isso abriu espaço para a entrada de Alexandre Magno que vai fazer com que a cultura e a filosofia grega até então muito restrita a um pequeno espaço fosse disseminada em três continentes, sendo uma das maiores revoluções culturais e científicas da história

Império Romano – Com três grandes pestes durante a sua época de Crise (Antonina, Cipriano e se Siracusa) a religião romana e o modo de vida romano vão começar a ser muito contestados, a morte de muitos escravos e falta de mão de obra fará as pessoas adorarem outra forma de trabalho, chamado colonato (trabalho livre).

Também uma religião que até então era considerada secundária e perseguida vai ganhar respeito pois vai propor uma forma diferente de enxergar o mundo, o cristianismo. Há historiadores que vem essas pragas como um dos fatores que impulsionou a propagação dos cristianismo na época até se tornar a religião oficial do império.

Peste Negra – A peste negra, que foi a doença que proporcionalmente mais matou, sendo um terço da população europeia em um período de 3 anos (1347 a 1350) irá abalar profundamente a forma de se pensar da época. Vai gerar falta de mão de obra especializada, onde vão passar a valorizar muito mais trabalhos de artesãos como ferreiros, ourives, entre outros. Até a servidão será deixada de lado em muitos locais que precisavam pagar camponeses para atrair nova população ao local. A crença na Igreja católica vai ficar abalada como solucionadora de problemas “mundanos”, abrindo espaço para a reforma luterana e para a igreja católica se reinventar na chamada contra reforma.

Mas mais importante que tudo isso a mente das pessoas em geral vai começar a caminhar para o ser humano como foco, as ciências e as artes, surge o chamado humanismo típico do renascimento que se inicia justamente neste século XIV, o século da peste.

Gripe Espanhola – No meio da 1ª Guerra Mundial surge a epidemia de gripe espanhola (na verdade foram 3 epidemias de vírus influenza que se mesclaram em épocas muito próximas, a primeira se iniciando nos estados unidos e as demais com foco na Europa, ocidente e oriente).

A população mundial já tinha motivos de sobra para se assustar com os horrores de uma guerra a nível mundial, como se não bastasse ainda em conjunto a pior pandemia mundial em termos de total de mortos, 50 milhões (estima-se que as mortes indiretas ultrapassem 100 milhões, uma vez que com a sobrecarga do sistema médico outras doenças deixam de ser tratadas e aumenta-se também o número de mortes mesmo por outros motivos) – Apesar do terrível horror, o mundo sai muito fortalecido, os anos 20 são considerados um ano de incrível explosão científica e cultural e bom ânimo para o mundo.

Surge o comitê científico internacional baseado na liga das nações com o objetivo de popularizar a ciência para o mundo, os maiores cientistas da época (até Einstein e Marie Curie entre eles) viajam a vários países, inclusive o Brasil.

O que antes era uma corrida “cada país por si” passa a ser uma corrida da humanidade em prol do avanço científico. Populariza-se o rádio, os automóveis, grandes avanços na medicina e na aviação. Além de que duas novas potências começam a ganhar destaque, a URSS e os EUA (que na prática após a 2ª Guerra vão se tornar as únicas potências

Se no texto anterior defendi que pandemias não trazem paz, neste defendo que elas trazem reflexão. A hora da humanidade dar uma guinada para melhor é agora.

 
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