Estamos chegando perto da data de “descobrimento do Brasil”. Há muitos anos somos ensinados na escola que no dia 22 de abril, Pedro Álvares Cabral teria “descoberto” o Brasil. Já escrevi nessa coluna em anos anteriores colocando essa ideia em dúvida, mostrando outros povos que teriam chegado na região onde hoje chamamos de Brasil antes dos portugueses, mas hoje gostaria de lançar outras reflexões sobre a data de “surgimento” do Brasil.
Primeiro, vamos lembrar que Brasil (assim como qualquer outro país) é uma ideia criada por nós seres humanos, uma construção cultural. O espaço onde hoje chamamos de Brasil já existia há milhões de anos e segundo a teoria da pangeia já esteve “grudado” na África.
Ainda assim, em algum momento nós, humanos começamos a chamar essa região de Brasil e acreditarmos que aqui é nosso país. .... mas quando isso ocorreu?
Sabemos, com certeza, que para Cabral a terra que havia sido descoberta não se chamava de Brasil mas sim a Ilha de Vera Cruz. Mesmo após viagens como a de Américo Vespúcio provarem que essa terra não era uma ilha, o nome ainda Permaneceu Terra de Santa Cruz.
Sabemos que o nome Brasil (que significa cor de brasa) vem da árvore Pau Brasil. Na verdade a árvore começou a ser explorada pelos franceses em comércio com os indígenas, ainda antes da colonização começar de fato.
Ainda assim, a primeira vez que o nome Terra do Brasil apareceu, foi em um mapa de algumas décadas depois e certamente não há nenhuma delimitação que chegue perto do que seja a nossa fronteira hoje.
Durante a época colonial, o nome Brasil começou a ser popularizado. Em 1700, embora já padronizado, não se referia a todo o nosso território, a colônia do Grão Pará (que envolve toda a região norte do país hoje) não era considerada como parte do Brasil, por exemplo, e nem a região que hoje chamamos de Centro Oeste, embora não fossem de fato colonizadas naquela época.
Pela lógica podemos considerar que o Brasil teria surgindo após a independência. Foi assim com os Estados Unidos, que surgiu da união de 13 colônias inglesas após a independência. Mas nosso caso é mais complicado que isso. Primeiro porque antes da independência, quando a família real mudou a capital do Império deles para o Rio de Janeiro, já havia mudado o nome do Império Português para “Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves” e o Brasil nesta época mesmo não sendo independente, não era mais colônia.
Bem, seja como for, foi após a independência feita por D. Pedro que o Brasil passou a ser oficialmente Brasil, certo? Bem, quase lá... Na época éramos Império Brasileiro, mas governado pela família real de Portugal... já era Brasil?
Claro!... mas após a proclamação da República, em 1891 o país recebeu a denominação de Estados Unidos do Brasil. A denominação foi usada até 1967. Quando o país passou a atual denominação República Federativa do Brasil.
A mudança foi estabelecida com a entrada em vigor da Constituição brasileira de 1967. Elaborada pelo regime militar sob o comando do general Arthur da Costa e Silva, ela entrou em vigor em 15 de março daquele ano.
O interessante pelo processo de formação de uma nação passa pela história do nome dado ao seu território. Especialmente porque é preciso entender que o conceito de Brasil está sendo formado a cada dia, e é constantemente ressignificado pelos próprios brasileiros. Ainda hoje escolhemos um pouco do que é o Brasil.
Definições como terra do futebol ou país do carnaval podem ser tão passageiras quanto o nome que já tivemos de Terra dos Papagaios. Autoproclamar-se com codinomes não é peculiaridade somente de nosso país. Estas denominações de cunho cultural e turístico são comuns mundo afora.
Por outro lado, você saberia dizer quantos anos tem a Alemanha? As repostas podem variar desde de 2000 anos (se considerarmos os povos germânicos nômades) até apenas 29 anos, se considerarmos que o que existia antes da Alemanha moderna era Alemanha Oriental e Ocidental. Antes disso o 3º Reich de Hitler, e antes dele o 2º Reich de Bismark.
Em tempos anteriores, eram povos independentes – exceto durante o curto tempo de duração do Sacro Império (o 1º Reich). Estabelecer quando surgiu um país não é tarefa fácil. A história mostra dados do que ocorreu, mas não como seu povo lida com esses fatos em nossa memória coletiva. Este é o aspecto cultural. Por esta razão, é sempre bom aproveitar o tempo presente para tentar criar um Brasil cada vez melhor.
