Escrito por Leandro Villela de Azevedo
Dos fenícios que construíram um vasto império econômico por três continentes baseado nos navios de cedro das florestas que eles devastaram, aos romanos que criaram o mais famoso império do mundo baseado nos saques de guerra e escravidão e perceberam que o modelo era insustentável, sendo derrubados mais por uma crise econômica do que pelos bárbaros mal organizados que entraram império adentro.
Na história recente Hitler pagou caro por criar um império baseado no trabalho escravo nos guetos e não se assegurar das matérias primas mais importantes para sustentar seu poder (como o petróleo do oriente médio, que nunca foi um dos seus focos).
Durante muitos anos a sustentabilidade era considerada um tripé, o desenvolvimento econômico e tecnológico, a preocupação em assegurar a base econômica em recursos renováveis, e a manutenção da paz social através de um modelo que independente do quanto possa ou não gerar desigualdade e enriquecimento, nunca se esquece das condições básicas de vida necessárias a um povo.
A Inglaterra, apesar de quaisquer pesares, tem sido exemplo desta ideia de constância, perceberam que uma economia ativa não se mantinha com escravidão, mas que quanto mais pudesse garantir condições mínima de vida para seus trabalhadores e cidadãos mais lucro ela possuiria, e pós Gandhi perceberam inclusive que era melhor dar certa independência política às suas colônias do que perder essa ideia de “aliança social” com seu povo (ou trabalhadores/consumidores).
No Brasil ainda caminhamos a passos lentos para isso. Uma parcela de nossa elite econômica não consegue perceber que o corte exagerado de direitos sociais e trabalhistas gera empobrecimento do povo que por sua vez, sem dinheiro, deixa se consumir e gera crise.
Parece também não perceber modelos incrivelmente eficientes como de Chico Mendes (que garantia a sustentabilidade da produção de borracha sem impactos ambientais) ou dar valor para projetos de reflorestamento como o SOS mata atlântica, que não somente preserva e refloresta como faz gestão econômica para que a área reflorestada seja produtiva garantindo lucro e sustentabilidade.
Desta forma não é de se espantar que aqui tão pouca gente tenha ouvido que um novo “pé” surgiu a esse tripé inicial que é a preocupação de conscientização histórica, ou seja, ter um povo que conheça o passado para que possa apender com os erros que cometeu e assim evitar repetir os mesmos, trilhando um futuro melhor, ter uma empresa que se preocupa com o impacto histórico social dela na sociedade, podendo ao invés de simples propaganda, demonstrar de fato como ela é indispensável para a vida cotidiana daquele povo desde muito tempo, fazendo com que a relação entre consumidores, trabalhadores, sociedade e empresa seja harmoniosa, e os lucros cresçam de forma constante e sustentável.
Claro, há exceções. De um lado temos as clássicas Coca-Cola que nos faz perceber que é quase impossível pensar um natal sem a bebida, que está presente desde “sempre” (século XIX na verdade) e que faz questão de lembrar o quanto eles estiveram presente na vida das pessoas como nossos país, avós, e impactaram comunidades inteiras com isso. Ou a Bayer, que basicamente “cria” a indústria farmacêutica e química (entre tantas outras) e que faz no mundo inteiro as pessoas pensarem que sem os inventos e produtos deles a vida moderna seria impensável (de sermos invadidos por pernilongos e doenças, a uma fome mundial generalizada).
No Brasil, embora pensar a sustentabilidade como um quadripé ainda seja algo relativamente novo, já temos exemplos interessante, e até empresas especializadas em memória histórica empresarial e centros de documentação (como a Memória e Identidade que existe há mais de 30 anos) – Gerando casos interessantes como a certeza que temos que a Bauduco é uma empresa familiar, amigável e que basicamente nasceu junto com os costumes de natal brasileiros (como o panetone) ou que a Brastemp basicamente é a “criadora” da “linha branca no Brasil” sendo quase impossível pensarmos a vida de qualquer pessoa vivente hoje que não tenha tido ao menos por uma década relação de amor com alguma Brastemp (e todos sabem que as outras marcas “não são assim uma Brastemp, néhhhh”).
A consciência da marca, da presença da empresa de alguma forma aliada com a consciência do povo, pode ser um caminho realmente sustentável para um sucesso duradouro.