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Jornal da Educação

De onde vem (Edição Outubro/2018)

República Democrática e as mortes violentas de políticos

Escrito por Leandro Villela de Azevedo

Em um ano eleitoral onde já tivemos tiros contra a caravana de um pré candidato, atentado a facada em outro, e declarações de que se devia “metralhar” os adversários, podemos imaginar que estamos no pior momento de nossa democracia (ao menos em termos eleitorais).

Mas uma visão histórica sobre a situação talvez nos demonstre que a situação não é bem assim. Basta volta uma eleição para trás e já talvez nos lembremos do pouco explicado acidente aéreo que levou a óbito o candidato Eduardo Campos.

No México, neste mesmo ano de 2018, já se contabiliza 122 candidatos mortos (entre todos os cargos disponíveis no pleito) no Brasil, a média é de 16 candidatos mortos por eleição (entre 1996 e 2016).

Apesar do quadro parecer bem assustador, de alguma forma ele parece estar intimamente ligado à ideia de república democrática.

Os Estados Unidos, símbolo de república democrática moderna já teve 4 presidentes assassinados. Sendo os mais famosos: Lincoln, assassinado no teatro, Kennedy assassinado na trajetória para discurso de posse de seu segundo mandato, mas também temos James Garfield e William McKinley.

Todos assassinados durante o seu mandado presidencial. Só no último século tivemos um total de 47 presidentes mortos em exercício pelo mundo, entre eles Paul Doumer, da França em 32, Carranza do México, em 20, Cerro do Peru em 33, ou Narutoviks da Polônia em 22.

A luta pelo poder sempre gerou muitos atentados e mortes. Basta analisar uma simples linha sucessória real, do reino que você escolher, e verá que raras vezes a sucessão ocorre de forma simples (o filho mais velho do casal assume) mas na maior parte das vezes, príncipes vivem pouco, e muitas das vezes há grandes guerras entre os parentes para ver quem herda o reino.

Isso ocorre desde o império Alexandrino (cuja tensão foi tenta que resolveram repartir o império após a morte de Alexandre Magno) ao império Carolíngeo, onde os três irmãos após muitas disputas resolveram dividir o império em três (muitas das vezes o reino se mantém unido, e os irmãos derrotados).

Muitos casos como o de Leonor de Aquitânia, que no século XIII se uniu ao seu filho Ricardo Coração de Leão e ao ex marido para destronar o atual marido e ter o poder todo para si e para os filhos, demonstram que a história nem sempre é como o nosso imaginário diz.

Ocorre que em uma democracia, essa disputa sai de uma família nobre e vem para o povo, e então haja civilidade para tentar acalmar os ânimos.

Na revolução inglesa (primeira a criar uma república na Idade Moderna), o próprio primeiro governante Cromwell, tem uma morte misteriosa (suspeita de envenenamento e, após sua morte, para terem certeza de que ele tinha morrido mesmo, resolvem exumar e mata-lo novamente a força).

Na revolução Francesa as mortes foram tantas que os próprios políticos eleitos (Girondinos e Jacobinos) em geral ou fugiram ou foram mortos pelo governo que criaram, uma máquina chegou a ser criada para isso, a Guilhotina.

Se voltarmos mais no tempo para a república “original”, a romana, veremos que excessos estão presentes desde sempre. Júlio César, mesmo após derrotar os gauleses, gregos, macedônicos e egípcios não conseguiu se livrar das facadas de seus compatriotas senadores.

Talvez os mais civilizados de todos tenham sido os gregos, criadores da democracia, que tentaram organizar a coisa de modo a que o poder nunca fosse capturado a força por um tirano. Criaram a lei do Ostracismo (voto secreto onde o mais votado de todos seria expulso da cidade e perderia seus diretos políticos por 10 anos). Entendiam que seria melhor tirar eles de nosso convívio por força de lei, do que apelar a força. Espero que o espírito grego da democracia paire sobre nós neste período eleitoral.

 
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