Escrito por Leandro Villela de Azevedo
Em um mundo onde uma parcela das pessoas que conheço está com os ânimos cada vez mais exaltados, ao ponto de alguns chegaram a desejar a ditadura militar.
Em um mundo onde vejo uma parcela da população tentando defender o direito de policiais espancarem ou humilharem trangêneros, independente de qualquer crime que essa pessoa tenha cometido, percebo que é importante um olhar histórico sobre o tema.
Discurtir identidade de gênero (para além da preferência sexual) parece novidade, há muitos que diriam com facilidade “em que mundo chegamos”, entretanto se formos analisar historicamente poderemos perceber que a questão da identidade de gênero, tanto em sua vertente de preferência sexual como apenas da questão de identidade, tem uma transformação constante no decorrer do tempo e do espaço. o texto mais antigo que conheço a esse respeito tem quase 5000 anos, trata-se da epopeia de Gilgamesh. Nela, Gilgamesh, um semi Deus com poderes sobre humanos é desafiado por um rival a altura, Enkidu.
Após dias em disputa, decidem que ao invés de serem rivais iriam ser “amigos” e declaram amor completo um pelo outro. A epopeia não fala de relações sexuais, mas conta que os dois amigos fugiam da presença de mulheres, lutavam nus na floresta sozinhos por dias e o grande início da aventura se dá quando Ishtar, a deusa do amor, se apaixona por Gilgamesh.
Ela tinha o poder de fazer qualquer homem se apaixonar por ela apenas com o olhar, entranto Gilgamesh ignora ela, que era considerada a mulher perfeita, preferindo a companhia de Enkidu.
Em um rompante de ciúmes Ishtar cria uma fera para matar Enkidu. Todo o restante da epopeia é composta por Gilgamesh, por amor a Enkidu, tentando arrumar uma forma de reverter a morte e salvar o seu amado.
De forma semelhante, em outra famosa epopeia da antiguidade, Aquiles, o herói grego quase perfeito e imortal (exceto pelo seu tornozelo) possui a companhia constante de Pátroclo,com quem tinha relações muito íntimas, ao ponto dele arriscar todo o sucesso na guerra de Tróia apenas para recuperar o corpo moribundo de Pátroclo, sobre o qual ele sobre por dias, na esperança dele voltar à vida e se foca em uma vingança contra o seu assassino após isso.
Historiadores e literários discutem se o amor de Aquiles e Pátroclo era mesmo homossexual, no caso de Gilgamesh raros duvidam disso. Entretanto, o mais interessante dessas duas histórias não é querer provar que o homossexualismo existe desde a antiguidade, raros estudiosos duvidariam disso (na verdade nem religiosos deveriam duvidar já que se a torá judaica que compõe os 5 primeiros livros da biblia cristã fala de regras sexuais a respeito do homossexualismo - e se fala é porque a prática havia).
O mais interessante desses casos é que nem Gilgamesh e nem Aquiles são considerados menos homens por terem tal amor, pelo contrário, eles são considerados exemplos máximos de masculinidade.
Na grécia antiga, o relacionamento entre Aquiles e Pátroclo não colocaria aquiles sob a alcunha de homossexual, heterossexual ou bissexual,Simplesmente era uma relação cotidiana entre pupilo e preceptor, onde um homem mais velho tomava um mais novo como espécie de filho por consideração, o ensinando nas artes de ser “macho” como a luta, a vida política e a iniciação sexual (com aulas práticas).
Sobre a questão de gênero então nem se diga. Joana D’arc foi condenada por bruxaria em um julgamento tal qual poucos contestaram seus poderes sobrenaturais, afinal de constas como uma mulher poderia ser capaz de coordenar um exército vencendo a Inglaterra em campo em uma guerra que posteriormente seria chamada de Guerra dos 100 anos.
Lembrem-se que ela só consegue tal feito a princípio por sefinger de homem até ser descoberta. Wu Ze Tian, a famosa imperatriz chinesa, que em um império onde os imperadores tinham milhares de esposa consegue subverter o sistema e assumir o poder em suas mãos foi considerada o cúmulo da experiência transgênera da época (na ideia de transitar entre os gêneros “padrões”).
Há historiadores que crêem que o misterioso sucessor indicado por Akenaton, faraó egípcio criador do monoteísmo neste país (ainda antes do monoteísmo do povo judeu) era na verdade sua esposa Nefertitidisfarçada de homem, já que pelas regras ela sendo mulher não poderia governar, sendo considerada apenas uma posse de seu esposo.
O papel da mulher e do homem vem se redefinindo constantemente no passar da história, assim como as atitudes consideradas adequadas a cada um destes dois gêneros, e em todas as épocas sempre haviam os que desafiavam os padrões esperados para o seu “gênero de nascimento” seja de cunho sexual, pessoal, político ou de vestimenta.
Tenha a opinião que você tiver a esse respeito pelo menos saiba, o mundo nunca parou de girar, quaisquer conflitos culturais que estejamos a enfrentar hoje nesse sentido apenas remonta a mais um eterno ciclo de redefinições de papéis, que existe desde os primórdios da humanidade.