Escrito por Leandro Villela Azevedo
Na Idade Média, muita gente acreditava na chamada Roda da Fortuna. Um personagem mitológico, a “fortuna” (às vezes traduzida por “sorte”) girava uma roda sobre o destino das pessoas, de modo que quem hoje estivesse “por cima” no futuro estaria “por baixo” e vice-versa. Se isso é verdade ou não, é difícil afirmar com certeza, mas alguns exemplos históricos nos fazem pensar.
Quem hoje em dia vê todas as questões do governo russo de Putin sobre a Ucrânia provavelmente vê este país com o algo fraco e pequeno perante o gigante russo.
O que poucos sabem é que a própria Rússia surgiu da Ucrânia. Como uma espécie de colônia afastava de Kiev (capital da Ucrânia) unindo-se com exilados dos nórdicos (vikings) surgiu Moscou, e posteriormente o povo russo. Mil anos atrás, eram os russos que pediam ajuda para se livrar da dominação ucraniana.
Outro elemento muito pouco conhecido é que a Crimeia, que recentemente foi o palco de disputa ao querer se separar da Ucrânia e se unir à Rússia, originalmente não pertencia a nenhum dos dois, mas era uma região do Império Turco Otomano por séculos.
Outro aspecto que torna ainda mais estranha esta disputa: podemos acrescentar que quem conquistou a Crimeia foram os próprios russos, à época de Catarina, a Grande. O território foi presenteado aos seus grandes aliados, a Ucrânia, durante o auge da Guerra Fria (região disputada essa, hein...).
Pra cima, pra baixo
Outro elemento jamais divulgado, mas que pouco se reflete sobre ele, é que entre as quatro maiores economias do mundo hoje em dia, duas (Japão e Alemanha) estavam completamente arrasadas cerca de 70 anos atrás. Ambos, após a derrota na Segunda Guerra Mundial, tinham seu território ocupado por tropas estrangeiras.
A Alemanha rasgada ao meio, parte socialista e parte capitalista, tinha um muro imposto por interesses estrangeiros dividindo sua antiga capital Berlim. E o Japão ardia radioativo após as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Hoje, são o 3º e o 4º países mais ricos do mundo.
E se é para girar a Roda da Fortuna mais uma vez nessa história toda, podemos pegar o exemplo do Paraguai.
Após a sua independência, no início do século 19, o país prometia, com índice praticamente zero de analfabetismo, população nacionalista, sem escravidão (enquanto essa era a forma de trabalho mais comum em quase toda a América, ao passo que na Europa a servidão ainda existia em larga escala poucos anos antes).
Naquele cenário, o Paraguai dava os primeiros passos rumo à revolução industrial (poderia ser o quarto país a entrar nesse processo, já com suas primeiras fábricas).
Para quem duvida que o Paraguai poderia ter se tornado uma potência, basta compararmos a outro país americano, também de independência recente, de território semelhante e nível de evolução semelhante que eram os Estados Unidos, no início do mesmo século.
Entretanto, enquanto o vizinho norteamericano multiplicou várias vezes seu território ao adquirir a Lousiana da França, capturar Novo México e Texas, entre outros do México e da Espanha e depois o Alaska da Rússia, o Paraguai foi praticamente destroçado pela tríplice aliança entre Brasil, Argentina e Paraguai. Impossível não notar que a roda girou de forma bem diferente para esses dois países.