Escrito por Jornal da Educação
Primeiramente, caro leitor, permita-me dizer que a absurda frase do título é apenas o oposto de tudo o que você lerá aqui. Essa frase, que por vezes aparece até mesmo em livros didáticos e em discursos diversos, é absurdamente preconceituosa, pois seria o mesmo que dizer que os africanos, tolos, teriam se deixado escravizar. Nada mais longe da verdade.
Sem falar em toda a resistência de reinos africanos contra a escravidão, e focando apenas nos movimentos de resistência à escravidão aqui no Brasil, já teríamos assunto para vários livros. É comum termos em mente o nome Zumbi, líder do quilombo dos Palmares, inclusive de onde saiu o dia da Consciência Negra (20 de novembro, morte de Zumbi).
Mas o que pouca gente sabe, ou fala, é que a ideia de que um quilombo é um amontoado de casas escondidas no meio da mata está muito longe da realidade.
Palmares era um complexo de várias cidades, ocupando uma parte significativa do que é hoje o estado de Alagoas o total da população do quilombo ficava entre 20.000 e 30.000 pessoas, isso em uma época em que a capital do Brasil e cidade mais populosa, Salvador, tinha apenas 30.000 pessoas e as outras grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, não chegavam a 5.000. Imagine, em termos comparativos aos atuais, um grupo de resistência que tivesse 12 milhões de pessoas (equivalente à cidade de maior população, São Paulo).
Outro detalhe que passa despercebido é que o quilombo dos Palmares dura mais ou menos 100 anos, sendo que Zumbi, ao contrário do que muitos pensam, não é um escravo vindo da África e também não é filho de escravos. Ele nasceu livre no quilombo, foi aprisionado apenas depois.
Ganga Zumba, antecessor de Zumbi, já governava o quilombo décadas antes e após a morte de Zumbi, a resistência continuou por mais meio século em outros redutos (muitos perderam o território, mas não a liberdade).
Durante esse tempo, foram necessárias mais de 60 investidas militares para vencer o quilombo que possuía armas modernas europeias para se defender, uma vez que comercializavam com cidades vizinhas e inclusive utilizaram-se de política diplomática para se aproveitar do cenário internacional (durante a invasão holandesa).
Por fim, podemos destacar que até hoje no Brasil tem mais de mil comunidades quilombolas. Ou seja, quilombos que resistiram até o fim, nunca foram conquistados, comunidades essas que pouco a pouco foram se integrando à nossa sociedade, mantendo a sua liberdade por séculos.