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Voluntários da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) que participaram de missões solidárias ao Rio Grande do Sul divulgaram um relatório das atividades realizadas entre maio e julho, que incluíram três viagens, a partir de Florianópolis, para entrega de doações e promoção de ações de extensão com famílias atingidas pela enchente. Acesse o relatório.

Com 34 páginas, o documento apresenta a diversidade de donativos arrecadados e de parcerias envolvidas, os locais visitados, as atividades realizadas, os integrantes das comitivas e as equipes de apoio, dentre outras informações. O relatório também traz relatos e depoimentos feitos por voluntários, parceiros e pessoas beneficiadas pelas campanhas.

Segundo os voluntários, um dos objetivos da publicação é prestar contas da iniciativa à enorme rede de apoio que se formou para viabilizar a ação solidária, que alcançou, na terceira missão, cerca de 3 mil donativos, destinados a moradores de três municípios: Porto Alegre, Canoas e Eldorado do Sul.

Mobilização crescente

Feitas a partir de Florianópolis, as missões ocorreram em maio, junho e julho, com mobilização crescente de docentes, técnicos e estudantes da Udesc. Ao todo, as três viagens tiveram participação de 19 voluntários da universidade. A terceira missão contou com quatro veículos, sendo três oficiais e um particular. Confira na galeria de imagens da notícia o registro da terceira viagem.

O planejamento das missões surgiu inicialmente a partir de ações extensionistas e direções de Extensão da Udesc Esag e da Udesc Cead. Outros centros em Florianópolis e em outros cinco municípios se engajaram, com pontos de coleta de donativos e outras ações: Udesc Cefid, Udesc Ceart e Udesc Faed, na Capital, além de Udesc Laguna, Udesc Lages, Udesc Balneário Camboriú, Udesc Alto Vale (em Ibirama), Udesc Planalto Norte (em São Bento do Sul) e Udesc Meio-Oeste (em Caçador).

No Rio Grande do Sul, o movimento envolveu os abrigos das paróquias São Martinho e São José da Vila Nova, da Escola Estadual Rafael Pinto Bandeira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e do projeto Mulheres Voluntárias de Canoas; além do apoio do Grupo de Estilistas de Moda de Porto Alegre e de diversas pessoas, que deram suporte individualmente.

Caráter extensionista

O relatório destaca aspectos acadêmicos da iniciativa, dentre eles o caráter extensionista, ressaltando que "extensão não é caridade". "Para os estudantes envolvidos, as ações foram uma oportunidade de vivenciar na prática o ensino da solidariedade. Usar ações de extensão universitária como catalisadoras deste aprendizado faz com que a engrenagem solidária rode com mais ímpeto e eficiência, auxiliando na formação científica e humana de todos os envolvidos", afirmam os responsáveis pelo relatório.

Além da extensão, a iniciativa também mobilizou grupos de pesquisa e discentes de diferentes campus, "que foram fundamentais nas etapas de planejamento e execução". "As reflexões obtidas com os resultados servirão para embasar novas pesquisas teóricas sobre o tema e para fomentar inovações nas práticas extensionistas."

Comitivas

Dentre as centenas de pessoas que se uniram na iniciativa, o relatório dedica um agradecimento especial aos que integraram as comitivas ao RS. "Um grupo que não mediu esforços para estar lá, absorvendo as dores das pessoas necessitadas, dormindo pouco e percorrendo muitos quilômetros. A energia transmitida por vocês foi essencial, vocês inspiraram muitas pessoas, tanto nos municípios atingidos, quanto na Udesc. Além da força de todo o movimento, a força do grupo que se formou tornou tudo mais bonito."

Cinco técnicos universitários que atuaram nas missões são motoristas: Leo Darcy Silvano, Jorge de Araújo e Marcelo Piske viajaram com uma delegação de 15 pessoas em 29 de junho. Alexandre Pereira participou da missão anterior, em 6 de junho. Gilberto Gervásio da Silva Júnior, o Giba, ajudou na logística de reunir donativos em Florianópolis.

Leo Silvano conta que a experiência teve momentos de muita emoção, principalmente quando foram doadas roupas aos necessitados. "Essa ação foi espetacular, muito linda. Me sinto realizado por alguns momentos que passei. Embora tenha ficado muito triste em alguns momentos, me deixou mais humano, até porque já passei pelo que eles estão passando. Para mim, foi uma escola.”

Estudantes voluntários

Emanuel Furtado, que estuda Administração Pública na Udesc Esag, conta duas situações que mais sensibilizaram a comitiva na terceira viagem: ver a completa destruição de bairros como Mathias Velho, em Canoas; e a entrega de um urso de pelúcia para uma menina, que comoveu todos que viram.

"Ela ficou extremamente feliz com aquele urso usado e disse: 'Eu tinha um desses, mas a enchente levou tudo embora'”, relata.

A aluna Luany Heinz, que estuda no mesmo curso, também lembrou do encontro com a menina no relato emotivo que escreveu.

"O amor cura, acolhe, acalma, ajuda, e, principalmente, não esquece. Não podemos esquecer do Rio Grande do Sul", alerta.

Fazer a diferença

Para a acadêmica Lia Marciano, que cursa Mídias Digitais no Instituto Federal de Santa Catarina (Ifsc), a experiência foi particularmente simbólica por ter ocorrido exatamente um ano após ela iniciar estágio na Udesc Cead, como parte da equipe de Comunicação.

"Quando olho pra trás, consigo enxergar que fiz alguma diferença ao longo desse ano. Projetos extensionistas como este e muitos outros da Udesc farão total diferença na profissional que estou me tornando", afirma.

Já a aluna Sandra dos Anjos, que estuda Educação Física na Udesc Cefid, fez questão de registrar também sua indignação com as situações presenciadas.

"Teve horas que eu não quis sair da Van. A visão geral era muito agressiva para minha consciência social. Mas organizo minha revolta em forma de ações. Enxergo a extensão universitária como um meio de mudar muitas realidades, e que sorte a minha ser Udesc. Minhas ações são pelos meus, sempre representando quem tão bem me gradua", afirma.

O relatório traz ainda uma prestação de contas dos recursos usados para a alimentação da terceira comitiva, financiada por voluntários; e um agradecimento especial a parentes de técnicos e docentes envolvidos na missão, que hospedaram os alunos durante as viagens.

Ponchos contra o frio

Conforme o documento, a entrega de quase 200 ponchos no fim de semana mais frio do ano no RS foi resultado de dois movimentos.

Em Porto Alegre, as peças foram produzidas por um grupo de estilistas liderado por Mônica Silva e Silva, Ana Alice Parera e Mariela Carneiro, dentre outras, que se mobilizaram pelas redes sociais.

Na Udesc Ceart, as palas foram feitas pelo programa permanente de extensão EcoModa, coordenado pela professora e diretora de Extensão da unidade, Neide Kohler Schulte, com participação da técnica Marlene Torrinelli e apoio de voluntários e acadêmicos do curso de Moda.

Ajuda nas paróquias

No abrigo da Paróquia São Martinho, onde os gestores alertavam para a necessidade de água mineral, o engajamento do coletivo da Udesc conseguiu mais de 450 litros em galões, estabilizando o estoque.

Localizado no Bairro Cristal, Zona Sul de Porto Alegre, o espaço foi planejado para servir especificamente ao público feminino, abrigando a mães e crianças de até 12 anos desabrigadas pelas enchentes.

Já o abrigo da Paróquia São José da Vila Nova, também na Zona Sul, abrigou famílias inteiras, incluindo seus animais de estimação, por cerca de dois meses, até encerrar as atividades no final de junho.

"A equipe gestora, com Duane Fogazzi e os demais coordenadores, segue prestando apoio às famílias que por lá passaram. Algumas retornaram a Eldorado, em casas totalmente destruídas.”

Na Ufrgs

Na Ufrgs, o abrigo funcionou na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança (Esefid), onde os voluntários da Udesc fizeram atividades em parceria com a instituição gaúcha, incluindo o pró-reitor de Extensão, Eduardo Cardoso.

O gestor da instituição gaúcha assina um depoimento no relatório: "Extensão é transformação, união, exercício de cidadania, formação, mas, sobretudo, é presença. Nessa calamidade pública que vivemos, mais do que nunca a extensão esteve presente. Vemos pessoas se unindo em prol da sociedade pelos caminhos da extensão universitária, como a Udesc fez, com atividades que impactaram centenas de pessoas em Porto Alegre e na região metropolitana. Muito obrigado à Udesc por realizar esse trabalho fantástico em um momento tão necessário para todos nós."

Cartinhas infantis 

Já o abrigo da escola Rafael Pinto Bandeira recebeu a primeira oficina que deu origem a campanha Cartinhas do Bem, em maio. Com a confirmação de que o método funcionava, a iniciativa foi ampliada para outros abrigos e, no total, 52 cartinhas foram apadrinhadas.

A campanha das Cartilhas do Bem ou da Esperança é descrita no relatório desde a concepção, com diversas fotos e histórias de pedidos contemplados - o antes, o durante e o depois em imagens.

A iniciativa surgiu a partir de oficinas do programa de extensão permanente Esag Kids, coordenado pelo professor Eduardo Jara, nos abrigos.

Prevenção de riscos e desastres

As oficinas incluíram contação de histórias e a doação de livros produzidos pelo programa. No RS, o tema das atividades foi prevenção de riscos e desastres, e as crianças tinham que bolar um plano com a metodologia Canvas Kids. Desses encontros, surgiram as cartinhas.

Foram distribuídos 430 exemplares da obra "Prevenção de riscos e desastres para crianças", de autoria de Eduardo Jara, com ilustrações de Maria Clara Reschke.

O livro foi feito em parceria com o Grupo Coordenado em Gestão de Riscos e Desastres da Udesc (Ceped), que também contribuiu nas missões solidárias ao RS.

Dentre os agradecimentos, o relatório cita doadores que entraram em contato pelo Whatsapp. Um deles mandou a seguinte mensagem à criança que apadrinhou: “Além de artigos do Inter, vai uma camiseta do time com a faixa vermelha que esteve comigo na final da Libertadores de 2006, quando o Inter foi campeão.”

Mulheres Voluntárias

Em Canoas, a comitiva visitou o centro de distribuição e o abrigo do projeto Mulheres Voluntárias. Acompanhados de Deisi Brocca, idealizadora e coordenadora, a equipe também conheceu casas que estão sendo reconstruídas e equipadas para receber de volta as famílias abrigadas.

O projeto cadastrou famílias necessitadas e segue fazendo entregas periódicas e recebendo doações de móveis ou pelo pix.

Muito por fazer

"Em Canoas, passados dois meses do pior momento da tragédia climática, ainda se observa pelas ruas seu impacto. As fotos não demonstram completamente o choque de realidade. Há ainda muito por fazer, e as universidades têm papel importante nisso", escrevem os voluntários no relatório.

Segundo eles, as missões em campo realizadas pela universidade serviram como fonte de observações, escutas, relatos de moradores e registros de campo.

"Foi duro ouvir pessoas que ainda precisam de água, roupas e itens básicos. As imagens mostram pessoas com ponchos doados, mas ainda apenas de chinelo ou sem nada nos pés. Muitas ruas permanecem com entulhos e filas enormes são vistas para retirada de cestas básicas, refeições e donativos em geral. Os 3 mil donativos, que demandaram muito esforço e cerca de 20 dias de organização, foram distribuídos rapidamente, em um único dia. As demandas ainda são muitas. Quem puder, deve seguir buscando formas de apoiar, seja pela Udesc ou por outros meios."

Nova missão em julho

Conforme os voluntários, uma nova missão está sendo planejada para julho, para levar itens remanescentes das últimas campanhas, que a frota de veículos não deu conta de levar.

"Sobraram livros e roupas. Iremos a alguns poucos abrigos que sobraram e a locais com demandas específicas. A Udesc seguirá trabalhando para orgulhar os catarinenses com sua formação prática e teórica de excelência, buscando sempre o melhor para todos", concluem os autores da publicação.

O relatório foi organizado pela professora Ivoneti Ramos, pela técnica Tânia Foletto e pelo docente Eduardo Jara.

As imagens foram produzidas por estudantes: Ernani Lima (segunda missão), Lia Marciano e Lívia Goulart (terceira missão), e pelos demais participantes das missões em campo no RS. 

Assessoria de Comunicação da Udesc Cead
Jornalista Gustavo Cabral Vaz
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