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O curso de Engenharia de Pesca do Centro de Educação Superior da Região Sul (Ceres), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em Laguna, começou a fazer testes preliminares em junho para desenvolver dietas mais baratas e ecológicas para tilápias (Oreochromis niloticus) e camarões marinhos (Litopenaeus vannamei), duas das principais espécies aquáticas cultivadas no Brasil.

"Iniciaremos outra série de experimentos em setembro, em sistemas ecológicos chamados de bioflocos, para testar diferentes formulações de rações para tilápias e camarões com o objetivo de baratear o custo delas", afirma o coordenador da pesquisa e do Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos (Lanoa), da Udesc Laguna, professor Maurício Emerenciano.

No sistema de cultivo de bioflocos, uma série de micro-organismos servem de alimento natural e diminuem a necessidade de nutrientes oriundos de ingredientes convencionais, como a farinha de peixe e o farelo de soja. "As rações atuais têm cerca de 20% de farinha de peixe nas suas formulações. Testaremos rações com percentuais reduzidos", diz Emerenciano.

Segundo o docente, os preços dos ingredientes convencionais estão aumentando ano após ano. "Devemos buscar formulações mais eficientes e ingredientes alternativos, como silagens de resíduos de pescado e farelos vegetais."

"Pequenos produtores poderiam se beneficiar das silagens para fabricar, ao menos, parte das suas rações, aproveitando-se da grande disponibilidade de matérias-primas existentes nos resíduos", acrescenta.

Em junho, Emerenciano participou de um curso teórico-prático sobre aproveitamento de resíduos de pescado em Serra Negra (SP), que foi promovido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) e mostrou como produzir silagens com vísceras e carcaças que sobram após o corte de filés de peixe. 

"Foi muito interessante ver a variedade de formas que podemos aproveitar para reciclar os resíduos de pescado de uma maneira racional e viável", ressalta o docente.

Outro ingrediente que ele quer testar em pesquisas futuras é a biomassa de microalgas, que já está sendo desenvolvida pelo Laboratório de Cultivo e Biotecnologia de Algas (LCBA), também da Udesc Laguna, sob coordenação do professor Fábio de Farias Neves.

Recursos e participantes

A pesquisa "Berçário de tilápias em sistemas de bioflocos: efeito de diferentes salinidades, níveis protéicos e relação energia:proteína no desempenho zootécnico, aspectos bioquímicos, hematológicos e parasitológicos" recebeu R$ 20 mil da chamada de 2013 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Além disso, obteve R$ 6 mil pelo PAP Externo, da Udesc e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Os experimentos, que serão desenvolvidos até o fim de 2016, são feitos em parceria com quatro professores da universidade: Giovanni Lemos de Mello, Micheli Cristina Thomas e Gabriela Tomas Jerônimo, de Laguna, e Thiago Perez Fabregat, do Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), de Lages. "Formamos o grupo de pesquisa em Aquicultura da Udesc, que é um dos únicos multicampi da universidade", destaca Emerenciano.

O projeto também conta com cinco acadêmicos de Engenharia de Pesca da Udesc Laguna e terá a participação da aluna Stephanie Maya Gutiérrez, do Mestrado em Ciências Agropecuárias da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM), do México, que virá em setembro e ficará três meses.

Parcerias no México

Além de colaborar com pesquisas na UAM, Emerenciano realiza ações com mais duas instituições do país, a Universidade Estadual de Sonora (UES) e a Universidade Nacional Autónoma do México (Unam), onde cursou o Doutorado em Ciências do Mar e Limnologia.

Desde 2012, ele já ministrou cursos no México e trouxe especialistas para um ciclo internacional de palestras na Udesc Laguna, além de promover um intercâmbio científico com a UES, que resultou na vinda do docente Anselmo Baeza-Miranda.

Emerenciano também vem desenvolvendo pesquisas e artigos com os colegas estrangeiros. Um deles, uma revisão sobre sistemas microbianos para aquicultura de peixes e camarões, foi publicado no início deste ano, na revista científica da área com maior fator de impacto no mundo, a Reviews in Aquaculture.

Outra ação recente dessas parcerias foi o intercâmbio da aluna de Engenharia de Pesca Sara Pinho, que é orientanda do docente da Udesc Laguna e, sob supervisão dele, foi ao México no começo de 2014 para fazer estágio voluntário de um mês na Unam.

Recepcionada pela professora Martha Gabriela Gaxiola Cortés, que foi a orientadora de doutorado de Emerenciano, Sara participou de atividades na Unidade Multidisciplinar de Docência e Investigação (Umdi), referência mundial em áreas como cultivo de peixes, camarões marinhos e camarões ornamentais, nutrição de organismos aquáticos e estudos ecológicos costeiros.

A acadêmica acompanhou, por exemplo, avaliações de digestibilidade in vitro de ingredientes usados para elaboração de rações e pesquisas com cultivos de diversas espécies de peixes marinhos. "A experiência foi extremamente gratificante para a aluna, que aplicará os conhecimentos adquiridos nos nossos laboratórios”, comemora Emerenciano.

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