Análise da primeira fêmea está perto de ser concluída
Fotos: Laboratório de Zoologia/Udesc Laguna
O
Centro de Educação Superior da Região Sul (Ceres), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), está analisando duas toninhas fêmeas que recentemente foram encontradas mortas com cracas pedunculares, da espécie
Conchoderma auritum, encrustadas nos dentes: uma em maio, na Praia do Mar Grosso, em Laguna, e a outra nesta quarta-feira, 11, na Praia de Itapirubá Norte, em Imbituba.
A equipe do Laboratório de Zoologia, sob coordenação do professor
Pedro Volkmer de Castilho, do curso de Engenharia de Pesca, está escrevendo um artigo para apresentar os dados até setembro, na
Marine Biodiversity Records.
De acordo com o docente, os animais foram encontrados com baixa massa corporal, em condições de subnutrição e sem alimentos no estômago. "Tudo isso mostra que elas não conseguiram mais comer e morreram de fome", afirma.
Quando as toninhas foram recolhida da areia, as cracas pedunculares ainda estavam vivas e em estágio avançado de proliferação. "O professor
Fábio Pitombo, da Universidade Federal Fluminense, que será nosso parceiro na publicação do artigo, confirmou a presença de, pelo menos, 35 indivíduos adultos desse crustáceo na primeira fêmea. Na outra, nossos alunos contaram 29", diz Castilho.
Mudança de relação ecológica
Antigamente considerada espécie exótica no Brasil, a craca hoje está em todo o mundo, sendo levada em água de lastro de navios. Para encrustar nos dentes de animais, secreta uma substância cimentante, desenvolve seu pedúnculo e depois se reproduz rapidamente, já que é hermafrodita.
"A craca peduncular era um organismo epibionte, ou seja, pegava carona em mamíferos marinhos, sem causar prejuízos aos hospedeiros, mas agora já pode ser considerada um organismo parasita. Esses dois casos que estamos analisando são raríssimos, pois mudam a relação ecológica", destaca o professor Pedro Castilho, da Udesc Laguna.
Antes desses registros no Sul de SC, só havia dois semelhantes publicados em todo o mundo: o primeiro foi em 1969, no Oceano Pacífico, enquanto o segundo ocorreu em 2012, em Florianópolis, quando o animal foi recolhido por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
"Nos dois primeiros registros, a toninha não morreu de fome, mas por outros fatores", comenta Castilho, que ressalta a importância das informações científicas que estão sendo levantadas.
"O legado da Engenharia de Pesca para o conhecimento da população é relevante. Temos sido procurados constantemente para tirar dúvidas sobre os mais variados assuntos da área."
Essa parceria entre a Udesc Laguna e as comunidades do Sul ocorre, por exemplo, na rede de contatos criada entre Garopaba e Balneário Rincão pelo projeto de extensão Informantes do Mar, do programa Tarrafas do Saber. Foi justamente por meio dessa rede que a universidade foi avisada sobre as toninhas encontradas com as cracas pedunculares.
Sobre a toninha
A toninha (
Pontoporia blainvillei) é uma espécie de golfinho de pequeno porte que vive nas águas costeiras e, por ser bem discreta, não costuma se aproximar de barcos.
Mamífero marinho mais ameaçado do lado ocidental do Atlântico Sul, é a única espécie brasileira de golfinho que corre risco de extinção por causa da alta mortalidade provocada por atividades humanas e do lento ciclo reprodutivo, de 11 a 12 meses, que resulta em um filhote a cada um ou dois anos.
A Baía da Babitonga, que fica no Norte de SC e tem o maior manguezal do Estado, é a única no mundo que abriga uma população residente de toninhas, com cerca de 50 espécimes. Em Laguna, ela costuma aparecer em alto-mar, entre 1,5 e 2 quilômetros da costa.
De porte pequeno, a toninha tem cerca de 1,4 metro de comprimento e pesa de 45 a 50 quilos, enquanto outra espécie comum no Sul de SC, o boto-da-tainha (
Tursiops truncatus) pode chegar a 2,9 metros e 300 quilos.
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